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sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

Quisera


 

Ah quisera eu que as pedras não fossem mudas...

Que no fundo dos copos encontrasse as verdades...

Que as palavras fossem de fácil entendimento...

E que os amores não fossem desfeitos...


Quisera eu que meus pés descalços não fugissem...

Do tempo que a tudo destrói e forma fuligens...


Que as ilusões não se desfolhassem...

Que os sonhos não perdessem as virtudes...

E que amando só conhecessemos  as verdades...


Às vezes uma dor nos desespera...

E a verdade nos engana...

Então o desalento clama...

E a vida queremos que encerre...


Então para que nunca nada se perca...

O desejo cultivamos mesmo amargo e rude...


E diante das auroras que se avizinham...

Para que o sonho viva de certezas...

Para que o tempo da paixão não mude...

Por bem vos quero...

E morro despedido...

Na esperança de um vão contentamento...

Em saber que nem tudo está perdido...


Sandro Paschoal Nogueira

Papéis


 

Não há papel que conte a minha vida...

Eu caminho por eles...

Eu sei que há diferenças

E ainda bem que as há...


O meu desejo canta...

Onde estás?


O vento levará os meus sonhos?

A noite cai de bruços...

Como existir esquecimento ?

Mas o que vejo?

A luz escurecer...

A amargura de olhar e não ver...

O ter e o perder...


Vago dia após dia...

Estranha quimera...

Estranhas fantasias?

Quais ruas escutam meus passos?

Quais estradas colhem meu olhar?


Aos solavancos do destino...

Onde estarão aqueles que me embriagam de calafrios?


Os ventos recolheram...

E diante de mim...

Até as estrelas emudeceram...


Em mim a vida força sua invasão...

De onde vem a voz que me rasga por dentro?

Sem luz nem eco...

De onde vem esse aperto no peito?


Entro abandonado...

Nesses muitos corações que encontro desavisados...

Mortos aos caminhos...

Por onde insisto e também sigo...


Não quero ser quem sou...


Sandro Paschoal Nogueira

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Pecado


 


Percebo afinal meu pecado...

Em silêncio mais profundo...


Faria piedade a toda a gente...

Esta pena, esta dor...

Este é o preço da vida e todo o seu valor...


Horas que perdemos...

Vão pelo espaço acompanhando os astros...


E todo este feitiço e este enredo...

Na luta dos impossíveis...

Tão profundo meu segredo...


Das profundas paixões...

Dor infinita...

De guerra e amor e ocasos de saudade…

Da alma o profundo e soluçado grito...

De que fui para ti só mais um neste vasto mundo...


Hoje triste ouço a solidão...

Da luz que não chegou a ser lampejo...

Da natureza que parou chorando...

Diante meu descontamento...


A vida é assim, uma ânsia…


Fazes o bem...

Que terás o mal por paga...


E o sonho melhor bem pouco dura...


Por tanto querer-te...

Recebi amarguras...


Pouco antes...

Nada agora...


E a princípio não percebi...


Como chegastes...

Partiste...

Mas levastes um pouco de mim...


Na profundidade dum desencanto...

Fiz-te doçura do meu coração...

Não compreendestes...


Mudarás, todos mudam...


Mais tarde em tua vida, um dia, hás de tentar

revolver da memória este tempo de agora…


E sentindo então o vazio...

Lembrarás do deixado para trás...


Não se vive outra vez...

E o tempo a tudo vence...

Fostes embora...

Mas fiquei em paz...


Sandro Paschoal Nogueira

Sede


 

Assim se desenterra toda a sede...

Todo o amor...

Todas as noites...

Uma a uma...

Toda a luz de cada dia...

E o meu coração que a ti espera...

Se alegra enquanto definha...


Vejo coisas que nunca antes tinha visto...

Coisas que sempre soube mas que nunca quis olhar...


Tão certo que me aperto...

Que meu mal tanto me dura...

Vou mais fora de caminho...

Sem ti vou tão deserto...


Recantos escuros, em segredo...

Atrás das sombras que me procuram...

Desiludido ainda me iludo...

No que meus olhos mais indagam...


Pelas palavras que nunca disse...

Pelos gestos que me pediste...

E com este cuidado todo...

Perco de vista o meu ser verdadeiro...


E bem sabes...

Que até me ignorando...

Sou teu...

Por inteiro...


Sandro Paschoal Nogueira

Procura

 



Sombra que segue os desejos...

Alma que tanto procura...

Sem encontrar... 

Em ruas, conversas vazias...

Fundo de copos se aventura...


Doidos passos incontidos...

Império dos sentidos...

Enfim o copo vazio...

- "Enche outra vez vizinho"...


Vinhas de vinhos de oiro não bebidos…

Ócios e sossegos…

Desejados e outros sentidos...


Noite sucedendo noite...

Vertigem em qualquer leito...

Tanto faz...

Tudo tem jeito...


Amores, esperanças e desejos...

Quase os mal diz...

Eis que entrega seu coração...

De nada serve e vale...

Tudo é ilusão...


Dias mal gastados...

Noites mal dormidas...

Desejos de coisas esquecidas...

Lembranças de velhas feridas...


Incansável a tudo retorna...

Rotina a que se entrega...

Fraqueza que vira resistência...

Quando qualquer hora e hora...


Mas pois por vosso mal seus males vistos...

E todos os dias finjes te-los esquecidos...


Já nem vives...

Nunca aprendeste...

Vem de sua saudade, o que presume...

A ânsia de realmente viver...


Dizes que ficas tonto…

Hás de então ficar louco...

Tonto, o feio fica bonito...

O corpo só arde em desvario...


No entanto, o imaginário

desejo de alcançar...

Já nada mais importa...

Nem mesmo se terá outro amanhã...

Ou se terá...

No dia seguinte se arrependido...


Sandro Paschoal Nogueira

Grande ilusão


 

Noite calada, como num lamento...
Foi cena alegre...
Oh quão lembrado estou...

Grande...
Grande Ilusão...
Perdida nos abismos da memória...

Pelas saudades que me aterram...
Durmo...
E o que importa?
Já não vivo em mim...

Chora o vento…

Noites sem brilho...
Noites sem luar...
Dolorido canto deste penar...

Meu olhar se pousou e se perdeu...
Mas por certo, a fé ardente...
Não perdeu a sua viva claridade e persiste...
E na volúpia da dor que me transporta...
Ainda insiste...

Sinto-te longe...
Ó esperança quase  morta...

Entre esses vultos falantes porém mudos...
Sou eu mais do que eles...
Ou tenho igual fado?

Um soluço subindo a eternidade...
Coração...
Coração...
Nas veredas da vida a alma não cansa...

Alongo os vacilantes passos...
Sob o julgo do tempo...
Ergo o cálice e blindo...
Sorvendo sublime veneno...

Sangue...
Luar...
Distantes saudades...

Sandro Paschoal Nogueira

terça-feira, 3 de outubro de 2023

Anunciação


 

Anuncia-se esperança noutro dia...


Um dia que me viste...

Se é que me viste...

Tirando da alma os bocados de tudo o que sinto...


Teia de um tempo...

Que o nada representou...

E que acabou...


Acumularam-se os invernos...

Diante eternos segredos...


Estava tudo pronto para receber a felicidade...

Esperei-te...

E não viestes...


Agora é em mim que procuro...

O que em ti não encontrei...

Sem amores...

Nem ódios...

Nem paixões...


Assim a minha vida se desprendeu...

Do muito que sonhei...

Em ser apenas teu...


Tudo é pó...

Mas nem tudo foi em vão…


Mesmo que o que arda e que nunca cure...

Quiçá em uma curva...

Eis-me diante de meu coração...


Sandro Paschoal Nogueira


Profundezas


 

Profundo deve ser meu futuro...

Em desejo e em procuras...

Enquanto o mundo vai de mim fugindo...


Passa o tempo...

Estremeçam as estrelas...

Desfaçam-se os mitos...

Assim segue o destino...

Enquanto caminho...


O que está ou não escrito...

A sorte e seu revés...

A dor...

Um lamento...

Novos amores...

O milagre de cada dia...

O sorriso de um momento...

Escolho meus caminhos...


Encantarei a noite...

Darei vazão aos instintos...

Já não mais presos dentro do coração faminto...


Um céu e nada mais é o que temos...

Não te assusta o mistério?


Vem...

Caminhe comigo...

Escute o sopro das canções dos anjos...

Ao pé de nossos ouvidos...


No entra e sai de um minuto...

Deste rapto do tempo foge um grito...

Da cegueira das paixões...

Logo após o delírio...


Bemdita e efêmera passagem...

Vem...

Caminhar comigo...


Sandro Paschoal Nogueira

Tempo


 


Podes, ó tempo, entrar...

Eu te convido...

Não o temo...

Não sinto perigo...


Alma incerta...

Não se distrai de ti...

Bem feliz eu sou...

Bem sei assim...


Não seja só delírios e desejos...

Mas amor que vive e brilha...

Que penetre o meu ser...

Sim, vivo e quente como a luz do dia...


As saudades que deixaste...

Crepúsculos de outrora...

Foram boas e bem lembradas...

Até mesmo nas horas mortas...


Mas tu foges de mim...

Foges a cada instante...

Por mais que eu corra...

Nunca está a meu alcance...


Então guardo os meu sonhos mais lindos e mais queridos...

Mantenho a luz da esperança, sempre acesa…

Por mais que eu em alguns instantes desfaleça...


No imaginário desejo de alcançar-te ergue-se o meu desalento…

Afinal para onde me guias?


Sandro Paschoal Nogueira

Vácuo morto


 


Não sei por onde ando e para onde vou...

O que tinha de ser já foi...

Da vida que foi e hoje não é...

Já não importa o que vier...


Olhai o meu coração que entre gemidos soluça...

Cidade morta...

Campo santo...

Que já não sabe o que faz...


Mas o que há de novo?

Nem imprevistos...

Uma vida sempre igual...

Oscilando entre o bem e o que há de mal...


O tempo se alonga e também para todos os dias...

Estranha situação...

Sem explicação...


Tédio extremo da desgraça...

Aguardando os fins de semana...

Para saber se algo muda...

Porém continua a sanha...


Vácuo noturno...

Fantasmas desfilando em espectros sudários...

Seguem pelas ruas cantando...

As horas mortas das fantasias perdidas...


Na floresta dos sonhos...

Atravesso no escuro...

Mundo estranho...


Alma que de aspirar em vão delira...

Onde está a lua?

Ilusão pura...

Cadê as estrelas?

Sumiram...


A minha eterna angústia de revolta...

Cabelos brancos dai-me, enfim, a calma...

De morar em uma cidade morta...

Que segue cantando pela rua...

As saudades mortas...


Cobra comendo cobra...

Irmão corrompendo irmão...

Nas cordas de um violão...

A vaidade se enrosca...


A meia noite a vida encerra...

Nem rosto atrás das vidraças...

Na manhã seguinte o féretro anuncia...

Semana que vem tem festa...


E a juventude passa...

Enquanto juntam as moedas...

Arrotando suas grandezas...

Enquanto à mesa...


Perdoai meu Deus...

A minha triste esperança...

Transformai meu coração seco...

No coração de uma criança...


Ah que saudade...

Da inocência perdida...

Hoje apenas sobrevivo...

Escondendo minhas feridas...


Ah lugar que nasci...

Lugar que me criei...

Acordai antes que o tempo tudo consuma...

Da vida que foi e hoje não é...


Sandro Paschoal Nogueira

Círculos


 

Círculo dantesco da loucura...

Viver, vibrar no brilho da lua...


Por entre as almas nuas...

Ser doido, alegre em maior ventura...


Encarando...

Rindo...

A vida que me tortura...


Sem ver a falsa bondade...

Das línguas nervosas...

E as pompas de serem quem não são...


As ilusões que a desventura transforma em pó e cinzas...

Dos ermos que bem conheço onde o vento passa e ri...


Não reparaste nunca?

Das almas que tanto anseiam e jogam suas cartadas...


Dos males feitos sem querer...

Amores mortos sem terem nascidos...

Nas madrugadas cinzentas e frias...

Em ruas tristes e vazias...


E no esplendor que perde e nem chegou a ser...

Bem triste a pantomima. . .

Onde no silêncio esquecido...

Muitos escondem a própria dor...


Sandro Paschoal Nogueira

Túmulos caiados


 

Decerto que já falei...

Bem sabes o que penso...


As misteriosas palavras dos véus de minha alma…

Não morrerão sem perdão...


Porque vejo muitos que se mascaram...

E isso assusta-me o coração...


Túmulos caiados onde germina a podridão...

Onde se compram e se vendem...

Sem nenhuma hesitação...


Usam a virtude...

Arrastando a inocência e a simplicidade...

Como convém...

Para a mesma escuridão...


Falam-nos do amor...

Não o sentem...


De maneira tão triste e louca...

Que não percebem...


Para fingirem suas lágrimas...

Não pedem permissão...


E se tu nada deres...

Irás para o ostracismo...

Daqueles que não tem condições de nada em ti julgar...


Quem nunca amou...

Não merece ser amado...

Tristes histórias...

Tristes fados...


Serei sempre provinciano...

Seja como Deus quiser...

Cego ao mal que me trouxer...


Sandro Paschoal Nogueira

quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Bruxo velho


 

Cavo,

Lavo,

Peneiro,

Nenhum erro cometi...


Corre o mundo em degredo...

Abrem-se as portas das prisões...

Bruxo velho tem segredos...

Sonhos e visões...


Teimoso aventureiro da ilusão...

Criatura do Criador...

Sem achar o que procura...

Encontra até o que não procurou...


Mundo torpe...

Em transição...

Um cego amor encontrou...


A pé andou...

O que construiu...

Foi o que plantou...


Toda gente sabe disso...

E falam o que não sabem...

De onde vem...

Para onde irá...

Ninguém nunca pensou no que há para além...

Para onde vai...

Ou o que fará...


Julgado em pouco preço...

Onde não há o entendimento...

Corrilho de megeras...

Turba insincera...

Visto que tudo passa...

Não ergais alto a taça...


Tempo passa...

Sempre passará...


Toda a gloria é pó...

Toda a fortuna é vã...

O que é hoje...

É de hoje...

Já não será de amanhã...


Quando a fortuna...

De inconstante aviso vai embora...

Vem assentar morada...

Desventura sorte...


Seja no claro céu ou turvo inferno...

Os desiludidos seguem iludidos...

Por esse mundão de Deus a fora...


Este mal que não tem cura...

Este bem que me arrebata...

Da fortuna aos favores...

Tenho amor, sem ter amores...


Enche-me os olhos d’água...

E nela lavo minha alma..

Sempre adiante...

Em mais alta busca...

Pela minha estrada...

Por este mundão de Deus afora...


Sandro Paschoal Nogueira

segunda-feira, 28 de agosto de 2023

Noite fria e chuvosa


 

Escondendo a lua...

Assim se movem as nuvens nesse anoitecer...


Como se o frio fosse o maior aconchego...

As árvores tornam-se  luminosas...


A chuva se derramando por praças, vielas e ruas...

E as almas mais calorosas...


Ouvindo com encanto alguém que não conheço...

Mas a mim, hoje, a mim...

Ignoro o tempo...


A felicidade jorra do meu grito...

Não há sossego de pensar nos destinos que não desvendo...


A meia-noite com vagar soa...

Sob os vaivéns da sorte...

Vozes...

Gemidos...

Também ouço lamentos...


O vento geme...

O mocho pia...

A noite...

Ah essa noite...

Tão fria...


As horas vão escorrendo lentas...

Cada coisa a seu tempo tem seu tempo...

E as histórias contadas no passado...

Retornam...


Não é serenidade o que se bebe pelas ruas...

Em cada rosto, em cada olhar,

um não-sei-quê...

Representando alegrias...


Máscaras...

Alegorias...

Sob o frio incenssante...

Enquanto o mocho pia...


Sandro Paschoal Nogueira

Abismo


 

Deus quer...

O  homem sonha...

A vida imita a Arte...

E a obra nasce...


As tormentas passam...

O mistério se cria...

Finda a noite...

Aurora se anuncia...


O homem é pequeno...

Sua alma divina...

Os sonhos alguns haverão de ter...

Enquanto outros põe tudo a perder...


Da sorte incerta...

Manda a vontade...

Do destino que é dado...

Tudo vale a pena...

Se a alma não é pequena...


Quanto mais o tempo passa...

Mais me afasto da razão...

O amor é um feitiço...

Mostrando-nos coisas tão belas...

Até que se conheça a traição...


Não tente apagar toda a dor do mundo...


Outros haverão de ter...

O que houvermos de perder...

Porque nisso está a verdade...

Até para quem não quer ver...


Nós podemos viver alegremente...

Não sei que abismo temo...

Mas sei que não podemos perder a nossa fé no Supremo...

Frio


 


No tempo dos segredos...

Todas as coisas eram possíveis...

Era no tempo em que os meus olhos...

Não tinham visto tantas coisas frias...


Antes das palavras gastas...

Antes de não termos já nada para dar...

O que chega, não fica...

Nem mesmo abre em nosso peito feridas...

Já não se passa absolutamente nada...


A rosa se descobriu a perder a cor...

Fechou os olhos e adormeceu...

E quando amanheceu veio o vento e a arrancou...


Ocultam-se as paixões...

Sob os véus da ilusão...

Tudo acaba como começa...

Sem guardar a lembrança de um amor...

Pobre e frio coração...


Ninguém te abriu...

Ninguém verteu lágrimas de puro afeto...

Ninguém lhe sorriu...

Refém das mágoas que a si mesmo causou...


As histórias são recontadas de tantas formas...

Tudo indefinido...

Destino...

Acaso...

Desejos...

Escolhas...

Talvez...


É bom às vezes sentir medo...

Raro ser compreendido...

À frente o desconhecido...

De tudo que se acreditou...

Onde o silêncio esconde pensamentos...

De tudo que já sonhou...


Sandro Paschoal Nogueira

quinta-feira, 24 de agosto de 2023

Sonhos


 

Trago dentro do meu coração...

Todos os lugares onde estive...

Todas as minhas escolhas...

Todos os amores que tive...


E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero...

Soa-me do fundo da alma...

Sonhos sinceros...


Cada homem, cada célula...

Tanta coisa...

Tanta gente...

No universo é verdade...

Nunca está só...


Por muito tempo achei que a ausência é falta...

De alegrias...


Em tempo de silêncio...

Tempo de nostalgia...

Intermináveis dias...


Ao longo das veredas...

Porque nisso está a verdade...

A vida em si...

É uma aprendizagem...


Voluntariamente abandonei...

O meu trono de sonhos e cansaços...

E aguardei com lágrimas no vento...

Mas sempre de peito aberto...


Não tenho pressa...

Pressa de quê?

Para quê?


Toco só onde toco...

Não em que desejo...

E assim sigo...

Sonhando...

Desejando...

Vivendo...


Sandro Paschoal Nogueira


domingo, 13 de agosto de 2023

Nada


 

Silêncio...

Hora morta...

Desfolhada...

Quando ouvi de seus lábios que eu não sou nada...


Hora inútil e sombria de abandono...

Um punhal em minhas costas...

A certeza cruel...

Do meu engano...


Sem rumo para os meus passos...

De que me serviram seus abraços?


Desiludido ainda me iludo...

Diante cruel mundo...

A quem devo dizer o contratempo...

Do solavanco desse destino...


Sandro Paschoal Nogueira

Rotina


 


Entram noites...

Entram dias...

O pó e a rotina...

As coisas repetidas...


O café requentado...

O pão amassado...

O dia que começa...

O galo cacareja...


Varrer o quintal...

Tirar as folhas mortas...

A justiça no fio da espada...

Pátria mal-amada...

Com a corrupção amasiada...


Ah essas ruas...

De pedras mudas...

Cães velhos e doentes...

As mesmas pessoas...

Dia a pós dia...


Um desejo de não sei o quê...

Quando a lua toca-me o rosto...

Na noite escura e fria...


Lembrando de um dia ter sido amado...

Tão distante o passado...

Os amores foram poucos...

Morreram sem cuidados...


O tempo apagando...

A marca dos meus passos...

Os dias embraquecendo meus cabelos...

Agora já tão escassos...


Não passa o tempo da saudade...

Passa um nada meio acontecido...


Vivemos e morremos feridos de silêncio duro e violento...

Insistindo em dizer...

Que tudo é belo...


O ano passa, e breves são os anos...

Poucos a vida dura...

Dar sem ter...

E ter sem tirar...

Fazer por merecer já que a ruína compreende tudo...

E eu conheço bem pouco desse mundo...


Demoro demais...

Ao óbvio perceber...

Vês aqui alguma figura? Ninguém vê...


Minhas tardes envenenadas...

De um vazio por dentro...

Único a me encher o tédio...

O meu cão...

Abanando o rabo...


Construí um labirinto...

E nele me perdi...

E também nem sei...

Se dele quero sair...


Ontem eu era o mesmo...

Amanhã também serei...

Não mudo...

E nada mudarei...


Meto-me para dentro...

Fecho a janela...

Apago as luzes...

Ascendo uma vela...


Rezo pedindo uma graça...

Que amanhã seja melhor e diferente...

Mas se não for...

Saúde já me basta...


E sem pensar em mais nada...

Como e vou dormir...

Minha alma...

De tudo está cansada...


Entram noites...

Entram dias...

O pó e a rotina...

As coisas repetidas...


Sandro Paschoal Nogueira

sábado, 12 de agosto de 2023

In memoriam


 

Esta noite eu durmo de tristeza...

Um balão apagado...

Um caixão à cova...

A dor conhecida e não tão nova...

Vil despojo da triste alma...

De uma estrela morta...


Ainda terei alento diante o pranto?

Teu nada em um jardim de pedras...

A pá de cal como promessa...


Por dentro do que pensamos...

Sou espírito sonâmbulo...

Ser que passa no mundo, sem o ver...

Ainda correm lágrimas pelos olhos...

Doem mais as do coração...


É tão tarde para dizer as palavras necessárias...

É dia...

Mas no peito a noite já é bem escura...

Despertam-me um desejo absurdo de sofrer...


Partistes...

Não haverá retorno...

Vestiu-se para um baile que não há...

Só existem saudades e fotografias...

A vida tornar-se-a agora tão fria...

Resta-me apenas crer...

Em um dia te encontrar se eu puder...

E fazer de nossa eternidade...

Outra história a contar...


In memoriam...


Sandro Paschoal Nogueira


Senhor


 


Era de noite quando eu bati à tua porta...

E na escuridão da rua tu abriste as portas...


Por que assim me deixas

Com alegrias e até tristezas

Rodeando-me de incertezas? 


Que a tua boca me diga...

Segredos em pé de ouvido...

Quando tua mão me toca...

Despertando em mim os mais loucos desejos...


Ah como agora os dias são curtos...

E a noite chega sem demora...

Não existe mais tempo para o meu torpor desta hora…


Sensações sem nexo...

Entre o corpo e a alma é a personalidade que tenho…

Se guardo algum tesouro não o prendo...


Quem é que abraça o meu corpo na penumbra do leito?

Quem é que me tira o fôlego e me deixa assim sem jeito?


És tu ...

Senhor de meus olhos...

Só pertencemos...

A quem nós amamos...


Sandro Paschoal Nogueira

sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Viver de amor


 


É a minha lei viver de amor...

Morrer não quero...

Desfalecer...

Sufocar de prazer...

Até na dor...


Sim...

Amar também dói...

Aperta o coração...

Nos tira o chão...

Faz a gente contar as horas ...

De agonia ...

Não ver o tempo passar...

Também nos tira a sabedoria...


Mas amar é bom...


No encontro das mãos...

Na troca e entender de olhares...

Saudades que não tem fim...

Pensar sempre na pessoa amada...

Em qualquer tempo...

Em todos os lugares...


Não há tempo consumido...

Nem tempo a economizar...

Além do amor, não há nada...

Apenas amar...


Um querer diferente...

Que envolve e doma a gente...

Harmonia suave...

Mas também insensatez deslumbrada...


Buscar sem saber o que busca...

Sem perdão e sem disfarce...

É lume que arde...

Na alma e no peito...

Deixando a gente sem jeito...

Igual a criança tola...

Que acredita no que, às vezes, não vê...


É viver entre a paz e a guerra...

Derrubando as distâncias...

Fazendo manhas...


Fatigado é procurar abrigo...

No seio ondes moras...

Enquanto a vida acontecendo lá fora...

E o antigo vazio...

Sendo preenchido...


Que hei-de fazer senão sonhar...

Não quero morrer de amor...

Quero viver...

Vivendo para te amar...


Sandro Paschoal Nogueira

Gratidão aos inimigos


 


Obrigado a todos que me desejaram e me desejam o mal...

São vocês o meu alento 🙏


Fugistes à ordem dos caminhos...

Do fundo do tempo implacável...

Domastes as tristezas...

Banhastes nas águas e beijastes os ventos...

Ristes de seus inimigos...

E sentastes à mesa diante deles bebendo vinho...

Erguestes tua casa entre paisagens sem alento...

Na falta daqueles que te amaram tanto...

Espalhastes aos quatros cantos o negro breu...

O grito de revolta preso à garganta...

E clamastes às estrelas presas no firmamento...

As mesmas te responderam...

Tudo passa...

É só um momento...


E hoje...

Em cada grão de areia...

Em cada flor a desabrochar...

Encontraste o ágape do Criador...

Tudo o que existe de grande e puro, veio...

E logo, de audácia em audácia...

Quebraste o círculo mágico...

Encontrando a paz...


Sandro Paschoal Nogueira

quinta-feira, 3 de agosto de 2023

Eco

 



#ECO


Meu coração arde em coisa fria...

Nem a luz...

Nem o fogo...

Nem a fome entardecida...


Ou a febre da sede dos lábios...

Ai, ai de mim...

Enquanto caminho...

É pelo corpo que nós nos perdemos...


Pertenço a quem amo...

Num profundo arremesso...

Tenho pressa de viver...

Só quero o que me é devido...


Coração diga o que sofri...

Nesses dias que embranquecem os cabelos…

Amores vividos...

Só as fagulhas voam ao vento...


É preciso partir...

Antes que tudo cubra-se de cinzas...

É preciso ficar...

Onde se é benquisto...


Cerca-me a solidão...

Tal como uma pedra escura...

É tão fria e morta...

Eu sem ti...

À sua procura...


Ninguém sabe dizer porque o eco embrulha a voz...

Mas eu sei dizer...

Que sem você...

Não vivo mais...


Sandro Paschoal Nogueira

Olhos ausentes


 

Todo o passado se dilui...

Também não se acumulam os dias...

Agora as verdades do que outrora foram mentiras...


Aos solavancos do destino...

Cresci e me criei...


Onde andam agora as vossas vozes?

Que horizontes colhem vossos olhares?

De que lhe valestes tanto mal a mim ter feito?

Tantos pesares...


Ouço vozes ao longe...

Que os ventos recolheram...

Olhos de ausência...

Caminho indeciso...

De onde vem?


Fito essa gente...

Que me rodeia e sempre rodeou...

Hoje só me comovem...

Tudo já passou...


Por silêncio e por renúncia...

Me vesti de vaidades...

Das dores que trago dentro do meu peito...

Das tormentas e tempestades...


Mas o que não me cansa...

É o que a brisa me traz...

É estar bem comigo mesmo...

Vivendo em paz...


Sandro Paschoal Nogueira

Reencontro


 


#REENCONTRO 


Do ser que tenho a viver...

Sou nesta vida um qualquer...

À ronda dos segredos ninguém conhece no fundo quem realmente eu sou...


O vento às vezes é brusco...

Leva para longe quem queremos perto...

Sem perdão e sem disfarce...

Sem deixar uma pegada...


Mas também traz...

Tirando nosso desassossego...

Que hei-de fazer senão com o retorno sonhar ?...


Esta saudade que não tinha fim...

Tenho o desejo doido de te contar...


Tenho medo...

Com o vento no arvoredo...

Das sombras...

Teimosas ao meu lado...

Do silêncio tão pesado...


Malícia do destino...

Ignorar o que vivemos...

Por dentro pressentindo...

Peço...

Volte...

Já não é tão cedo...


Pergunto por onde anda a minha vida...

Já não sei mais a diferença...

Sem você..

Tudo é ausência...


O medo conta os vinténs...

Fazendo-me seu refém...

Busco a luz e a encontro...

É você...

E ninguém mais...


Sandro Paschoal Nogueira

domingo, 30 de julho de 2023

Sonhos

 



Sonhos estão fora de moda...

Construir castelos sem nos ventos pensar...


Mas não desisto...

E sigo...

Lá vou eu, nas minhas tentativas...

Quero mais é sonhar...


Tiro um arco-íris da cartola...

Abro minhas asas...

Caminho sobre as estrelas...

Vivo com desejo de amar...


Neste mundo de liberdades...

Em que tudo pode, tudo é permitido...

Tudo que se começa...

Já tem hora para acabar...


Sou pessoa de dentro para fora...

Quando sonho, sonho alto... Estou aqui é pra viver, cair, aprender, levantar...


O problema em ser intenso...

É que intensidade assusta, afugenta, oprime...

Quem tem medo de se dar...


Amanhã, já me reinventei...

Não me dou pela metade...

Não desisto de sonhar...


Sandro Paschoal Nogueira

sábado, 22 de julho de 2023

Às vezes...


 


É muito longe e tão tarde...

Sem inspiração estou agora...


Há uma doce luz no silêncio...

Às vezes nos falta esperança...

Às vezes perdemos nossa fé...

Às vezes estamos sem rumo...

Às vezes a dor nos faz chorar...

Às vezes descobrimos que precisamos acreditar...

Às vezes a amizade era apenas conveniência, oportunismo...

Às vezes as pessoas que amamos nos magoam...

Às vezes as pessoas nos traem sem nenhuma piedade...

Às vezes o amor nos machuca profundamente...

Às vezes queremos parar de viver...

As vezes algo toca nosso coração...

Às vezes alguém entra em nossa vida, e se torna o nosso destino...

Às vezes você se toca...

E percebe que poucos te disseram que te ama...

E muitas vezes só queriam transar contigo...

Às vezes você pode descobrir que quem mais te amou nunca te disse isso...

E por tanto te amar...

Não sentiu necessidade de dizer...

Fez tudo por você...

Às vezes a felicidade pode demorar a chegar...

Mas o mais importante é que ela venha...

E que te encontre...

O importante é nunca deixar de sonhar...


Sandro Paschoal Nogueira

Necessário


 


A maior necessidade do homem é sentir que é necessário...

É estranho...

Estamos continuamente à procura de quem precise de nós...

Assim, nunca conseguiremos repouso...


Um certo significado...

Cavalgada solitária pelos caminhos desertos...

Aperta-me para sempre...

Sob as noites que adormecem-me debaixo dos olhos...


Sentirmos que o tempo corre...

E nada podemos fazer...

Nem contra...

Nem a favor...


Eu fico aqui, a olhar-te a pensar no quanto te quero...

Todo o meu corpo se vem quando estás a chegar...


O amor é uma renúncia...

Amar alguém é desistir de amar outros...


Sandro Paschoal Nogueira

Paixão


 


Quanto dura uma paixão?

Uma paixão não dura nada... Apenas dura a eternidade do sorriso que te cativa...

No fim de um dia...

No meio da madrugada...


Depois...

A alegria se torna amarga...

Caco de vidro que sob o sol...

Cintila e se apaga...


Agora...

Na superfície da luz procuro a sombra...

Seguirei a estrada...

Não deixarei para depois...


Abrirei as janelas de minha alma...

Para que entrem as estrelas...

Na rua, onde os ventos se cruzam, quem sabe, talvez...

Outra paixão desponte...


Os destinos se decidem...

A vida que tudo arrasta...

Arrasta os amores também...


Veneno absorvido pela ingratidão...

Vieste...

E fora vencida minha solidão...


Mostrate-me o que eu não conhecia...

Mas partistes...

De forma tão fria...


Levando consigo pedaços de meu coração...

A qual brincaste jogando-o no chão...


Vencido o sofrimento...

Da sorte sem piedade...

Sem ti correrá tudo sem ti...

E mais uma vez passarei...

Por essa tempestade...


Sandro Paschoal Nogueira

quarta-feira, 19 de julho de 2023

Plebeu


 

Que ruas escutam vossos passos?

Quais das pedras mudas e inertes testemunham por ti?

Onde anda agora a vossa vida repartida?...

Que outrora foste minha companhia...

E que agora, pelas estradas, tua alma tão sozinha...


Onde um dia fostes rei...

Agora é impuro plebeu...

Já não és importante...

És repudiado pelos teus...


Aos solavancos do destino...

Que embebe o ar de calafrios...

Tudo é orgulho e inconsciência...

E que por isso tanto dói...


Escolhestes o antigo degredo...

Já me tardava este espinho...

Agora tão longe...

Eu cá tão sozinho...


Sandro Paschoal Nogueira


terça-feira, 18 de julho de 2023

Vais...


 


Tu que dormes à noite na calçada ao relento...

Sem abrigo...

Abraçado à solidão...

Recebendo carinhos do sofrimento...


Tu que estás em casa só...

Dos parentes e amigos esquecidos...

Que verte lágrimas quentes...

Beijadas pelo vento...


Tu que tens o coração...

Corroído pelo ciúmes...

Que resmunga por onde vais...

O látego dos seus queixumes...


Tu que debruçada nas janelas...

Vez ou outra por detrás das cortinas...

De olhar assustado...

Segurando a língua e as intrigas...


Tu que pelas manhãs e noites frias...

Vaga por bares e boemias...

Procurando preencher o vazio...

Daquilo que nem tem mais sentido...


Tu que cultivas a secura...

Sufocando a ternura...

Vês o tempo indo célere...

Dias e dias...

Luar após luar...


Tu que andas nas sombras...

E que a fome da alma conhece...

Que sofre e não esquece...

O mel de um dia, outrora...

Em  que foste feliz...

E sem saber como...

Deixou passar a ventura...

O fel tu agora prova...

Porque bem assim quis...


Estava tudo pronto para receber a felicidade,

e tu não fostes...

Sonhaste e não lutaste...

Os amantes foram e se deram...

A vida aconteceu...


Agora tu praquejas...

Blasfema aos céus por erros teus...


Percebes que sois finito?

Pobre espírito...

Desatas a chorar...

Range os dentes sufocando os gritos...


Há  mortos inda que vivos, vivem...

Me convenças de que ainda existes...

Não serei como tu...

Que da vida perdeste o encanto...

Que agora em lamentos...

Sofre pelos teus muitos enganos...


Caminho por onde vou querendo...

Já que nem os mortos como tu...

Apontam -me os dedos...


Sandro Paschoal Nogueira

O secretário


 

👹👹👹

Dizem que se o diabo não pode ir ele manda o secretário...

E o secretário é pior que o patrão...😱

Coloca defeito, dessaruma tudo...

Querendo subir de cargo...

Almejando promoção...


Bem sei isso...

Quando de minha casa abro a porta...

Não entra um...

Não entram dois...

Entra a horda...


A porta que passa o bem...

Também por ela passa o mal...

Tratar com certas pessoas...

É pior que lidar com um animal...


Quem tem paz no coração...

À minha casa seja bem vindo...

Senta-te à minha mesa...

Beba comigo...

E coma do meu pão...


Valei-me todos os santos e anjos...

Que moram no céu...

Que o inimigo não me veja...

Que não me encontrem...

Que me esqueçam...

Não me perturbem...

E que fiquem ao léu...


Que sejam poeira...

Varridas pelo vento...

Com Deus e a Virgem Maria...

Eu me amarro e me prendo...


O pior mal é aquele que se disfarça escondendo a  verdade no coração...

Todo mundo sabe...

Que o inferno está cheio de gente com boa intenção...


Sandro Paschoal Nogueira

segunda-feira, 17 de julho de 2023

Cristal quebrado


 


Quem poderá domar os ventos?

Quem poderá calar a voz do sino triste?

Nem deuses...

Nem monstros...

Nem tiranos...

Que em cada hora se perde...

A esperança que amarga...

Do que foi dito pelo não dito...

Na voz dos aflitos...

O consolo dos desconsolados...

O cristal foi quebrado...

O tempo perdido...

A lágrima que rola...

Escondendo os gritos...

Outrora prometido...

O que hoje não tem mais sentido...

E no labirinto que se encontra...

Ainda sonha...

Desejando não estar perdido...

Mas os ratos devoram...

Até as hóstias sagradas...

Invadem casas...

Trazem dores e martírios...

A saída é a luta...

Mas com quem lutar?

A luz está difusa...

O fim será se entregar?

Será do látego o carinho que irá receber?

A fome...

A miséria...

A morte...

Mais sofrer...

O destino escolhido...

Pela indecisão...


Sandro Paschoal Nogueira

Angústia


 

Em plena angústia aos solavancos do destino...

Sigo e pergunto ao vento e à rua onde anda você...


E por detrás de cada esquina

e por detrás de cada vulto...

O vento traz a voz de um a voz de outro, mas não traz a sua...


Ouço gritos ao longe...

Que a madrugada recolheu as vozes...

Senti dentro de mim o tempo a criar silêncio...

Já não sonho...

Meus sonhos tornaram-se poeira no tempo...


Perdi a vaidade...

Amei sua partida...

Mas agora sofro...

Pela sua ausência...


A ver no mundo seco a dura e seca realidade...

Pensei coisas profundas...

Onde deixaste a marca dos teus pés...


Não quero ser quem sou...

Se não for contigo...

Já sou entrado em anos...

E tanto sinto...


No coração não sinto pesar tanto...

De inda puro sonhar...

Te espero...

Me dê uma e outra vez...

O seu olhar...

Te espero...


Sandro Paschoal Nogueira

Orgulho inconstante


 


Tudo é orgulho e inconstância...

Tudo é querer ser...

Querer poder...

Deixar rastro...

Correr adiante os dias impotentes...

Ardor no coração diante as estações que seguem...

Trêmular sob o tempo que passa e a tudo consome...


Talvez em cada coisa uma coisa oculta more...

E dizem que isso é nossa alma...


Pobre loucura dos homens...

Que julgam conhecer a loucura das estrelas...

Cantam a vida e falam em morrer tremendo de medo...


Toda inocência, toda pureza branca...

É um dom só concedido àqueles que mais amam...

E se em teu coração, desde então, existe ou venha a existir um desejo...

Sonhe...

Para viver...


Sandro Paschoal Nogueira

Destinos


 


Nasço, vivo, morro por um destino em que não mando...

Então quem eu sou?


No luto dos meus olhos...

Foi na minh'alma que nasceu a dor...


Quem é leal e quem não nos  abandona...

Quem devemos procurar...

E ser dignas de confiança...

Alguém a encontrar?


Já quase desisti...

Da inocência do desconhecido...

E a saudade?

Ainda vive em meu peito...


O que levamos da terra

É o céu que possuímos...

E à morte que damos vida...

Criam-se o sentido...


Vã filosofia...

Turvo clarão de raciocínios tristes...

Nos engana e mente...

Entre sombras nos conduz...


Quem rasteja na Verdade...

Se desencanta...

Do amor escravo...

Vítima sempre serei...


São muitas as provas na vida que  servem para testar quem somos...

Seguir adiante, sem descansar...

Afinal ...

Onde tudo vai dar?


No meio da confusão é preciso ver para além do que se pode olhar…


No meio de tudo onde estou eu?...

Que serão os meus sonhos...

O que posso almejar?


Sandro Paschoal Nogueira

quinta-feira, 29 de junho de 2023

Espera


 


No declive do tempo os anos correm...

E o tempo esmaga tudo...

Ai, ai de mim enquanto caminho...


São inúteis as palavras destes versos...

Nada entenderás...


Só quero o que me é devido...

Com licença, quero passar,

Tenho pressa de viver...

Não tenho tempo a perder...


Nesses  dias que embranquecem meus cabelos…

Ferido de silêncio duro e violento...

Com um beijo me despeço...


Eu andava à sua procura quando ainda não existias...

Sinto...

Sem planejar nenhum destino...

Que é preciso partir...

Os nossos sonhos uniram-se

talvez muito tarde...


Anda a bruma a fazer-me  medo...

Não há luar,

Não há estrelas...

Já não sei mais o quero...

Já não sei o que vejo...


Hoje, é que nada espero.

Para quê, esperar?


Sandro Paschoal Nogueira

segunda-feira, 26 de junho de 2023

Promessa de partida


 


Sangue dessa pobre alma em ferida...

Andando contemplando a lua branca e fria…


Luz que a madrugada entorna...

Há de nos devorar, talvez...

Cada amigável momento...

Além do livre pensamento...


Heróis da gargalhada... 

Eu gosto de vocês...

Grandes ironias das farsas joviais...

Dos restos de copos...

Falando besteiras e nada mais...


Com vocês sorrio...

Ah, sim, gosto de vos ver...

Da vida heróis da bofetada...

O que há mais a fazer?


E no curso veloz...

Do tempo que a tudo devora...

Eu rio sempre com desdém...

De ver o povo elouquecer...

Nas mímicas sem par...

Nas histórias a contar...

Do ato de seduzir...

Do disfarçar em cuspir...

E a qualquer um se entregar...


Assim se faça tudo...

À medida do que se ama...

Com uma promessa de partida...

A noite corre...

E quase já finda...


A vida dá-me janelas...

Que nasce na fantasia...

Um querer indiferente...

Sem perder-me...

Da maneira que assim se exista...

Ah, a opressão de tudo isto...

Que me oprime para ser feliz...


Sempre, sempre, sempre...

Oh Deus...

Ouve minhas preces...


Sandro Paschoal Nogueira

Herança


 

Herança de tudo que não sou...

Inocência do desconhecido...

Luto dos meus olhos....

Disfarçando na minh’alma a dor...


À morte que damos vida...

O sonho da terra que se pisa...

Soprem tarde os desenganos...

Dos tempos que hão de chegar...


Desejo de amor sincero...

No breve correr dos dias...

Nunca o presente é passado...

Nunca o futuro é presente...

De onde venho, poderei voltar ?


Peço ao vento que não uive e não gema tanto...

Grandes são os desertos e as almas desertas e grandes...

Hoje não me resta...

Senão saber isto...


Como a folha morta em lagos sonolentos...

Noite sussurrante de silêncios...

Como me engana...

Esse velho coração...

Como ainda desejo e sonho...

Ansiando pela ilusão...


Sandro Paschoal Nogueira

Enganos


 

O meu coração desce...

Na tua ausência como um caixão à cova…

Sob o fustigante látego do esquecimento...

De dor violenta e não tão nova...


Que apego ainda mantenho?

Alma egoísta e fraca sou...

Desventuras que ouço...

E de tudo que passou...


Todos os dias de ti ouço falar...

Novo assunto sempre aparece...

Vil gênio me atormenta e a indignação me inspira...

E o povo que me beijava...

Era o mesmo que me enganava...


E tu, tu não te abrias...

E com olhares para outros sorrias...

E cego por ti fiquei...

Das horas à sombra dos teus gestos que fiquei...


Hoje canto e choro amargamente...

E a dor, indiferente, se faz latente...

A mesa posta a tua espera continua...

Embora meu sorriso tenha sido apenas um brinquedo...

Destruído pelas mãos tuas...


Sandro Paschoal Nogueira

quinta-feira, 22 de junho de 2023

Envelhecer


 


Nada passa mais depressa que os anos...


Quando mais jovem dizia...

Que ao chegar aos vintes livre seria...

Dali pulei para os trinta...

Já aos quarenta e nada sentia...

Cheguei aos cinquenta...

Sem fazer muito esforço...

Quem diria...

Deus me permita chegar aos noventa...

E ainda ter um coração de moço...


Pensava antes que os velhos eram bobos...

E disso eu ria...

Agora bem sei e compreendo...

Os mais jovens é que o são e não se dão conta...

Assim sigo aprendendo...

Poucas coisas me surpreendem...

E outras tantas ainda me amedrontam...


O tempo risca meu rosto...

Isso é fato...

Diante o espelho...

Ocasionalmente me embaraço...


E ainda que o destino seja cruel...

Já não me engana tanto a ilusão desse véu...


Meus cabelos ficarão brancos...

Minha pele perderá o viço...

O corpo, o vigor...

Estranho esse feitiço...

De tamanho rigor...


A sabedoria, quem diria...

Torna-se minha companhia...

Lentamente...

A cada dia...

E a cada noite que se anuncia...


Nem sempre escuto o que as pessoas dizem...

Geralmente não me interessam...

Às vezes me magoam...

Agora prefiro prestar atenção no que fazem...

E não no que apregoam...


O amor nos faz envelhecer antes da hora...

Mas também nos torna jovens quando a juventude passa...

Mas a paz...

Ah a paz...

É tão acolhedora...


Qualquer um pode ser jovem...

Envelhecer é um mérito...

Tudo é questão de espírito...

E de tudo que nos envolvem...


Embora tenha Deus como companheiro...

Que amanhã  não seja ainda o dia de estar ao seu lado...

Mas na derradeira hora...

Farei parte desse céu estrelado...

E desde já ao Criador agradeço ...

Envelhecer é aprender a tudo ser muito grato...


Sandro Paschoal Nogueira

sexta-feira, 16 de junho de 2023

Leito vazio


 


Um dia, talvez, haverá novos sonhos...

Ouvirei com encanto alguém que não conheço...

Para mim será o começo de tudo...

O começo de um novo mundo...


Agora para mim já tão frio e já tão tarde...

E sem fazer nenhum alarde...

A minha alma não descansa...

Não sou nem mesmo uma lembrança...

Uma esquecida sombra que ninguém repara...


Todo o amor é desejar...

Embora se viva às avessas...

Se o tempo troteia...

E pesa como uma estrela...

Quão afortunados são os amantes...

Quão infelizes os ignorantes...


Estranha cousa esta...

A ventura de querer ver-te bem...

Mãos de renúncia...

Mãos de amargor...

Ao perder seu amor...


Semente divina...

Que só n’alma germina...

Exalta o viver...

Em doce tortura...

Ai amor...

Que sorte de quem tem você...


Repara...

Aqui eu sem luz e sem vida...

Quando, alta noite, me reclino e deito...

Clamo por ti...


No vazio do meu leito...

Só o silêncio...


Sandro Paschoal Nogueira

Pressupondo


 

Por vezes quando o tempo passa...

Em horas dentro de mim...

Passa um nada meio acontecido...

Uma saudade que não tem mais fim...


Na penumbra de minha casa...

Escondido sob o luar...

Na artéria estendida do silêncio...

No vão do patamar do tempo...

A procurar...


Pressupondo um olhar para trás...

Por tudo o que eu vi e sei...

No curso veloz da vida...

Corri, subi e voei...


Agora grito...

Para rasgar os risos que me cercam...

Insensatos...

Não me servem de consolo...

Tolos...

Inúteis...

Pueris...


Fartam-me até as coisas que não tive...

Fartam-me com tudo o que sonhei...

Fartam-me o tanto que desejei...


Outrora escalar os céus,  imaginei...

Tudo era igual...

E tudo me ruiu...

E entrei abandonado na esperança...

Entreguei -me a ela e ela me possuiu ...


Em combustão secreta...

Ao silêncio me abri...

Hoje entre as pedras procuro...

Aquilo que perdi...


Não paro...

E se necessário volto atrás...

Quantas vezes necessárias forem...

Até  reencontrar...

O que nunca esqueci...


Dizem todos que é loucura...

Bem isso eu sei...

E muito ouço e muito já ouvi...

Tenho um caminho marcado...

E se agora não encontro...

Vou procurar no passado...

Revolvendo as cinzas...

Até descobrir...


Sandro Paschoal Nogueira

quarta-feira, 7 de junho de 2023

Cansado


 


Como se o frio fosse o maior aconchego...

Enquanto a manhã vai se derramando  em multicores...

O céu parece baixo e de neblina...

Até eu venho ver se me apareço...


Essa delicadeza, cada vez mais e mais difícil...

A qual me perco...


Vida...

Não sei se entendo...

Mas pratico...


Embora esperanças minhas...

Pelo tempo desfeitas...

Ainda sonhar...

Me permito...


O que há em mim é sobretudo cansaço...

Não disto nem daquilo...

E ainda assim dizer

Deus seja louvado...


Sandro Paschoal Nogueira

Voz no vento


 


Houve um tempo...

Em que eu sonhei com as estrelas...

Por não conseguir ir até elas...

As trouxe para mim...


Não sei o mistério...

Das falas do coração...

A minha paz é ignorar...

Tanta coisa que se esquece...

Perdidas na ilusão...


Voz no vento...

Passando entre a poeira...

Se guardo algum tesouro não o prendo

Enquanto caminho sobre minhas estrelas...


Onde fica o mundo?

Os caminhos de pedras e estreitos?

Os mares, do rio seus leitos?

Onde fica o mundo dos estranhos homens sujeitos?


Porque assim deles vivo escondido...

Minha história que ninguém crê...

Que me dói não sei onde...

E nem o porquê...

Ser ou não ser eis a sorte...


O que tiver que ser será...

O que Deus desejar...


Sandro Paschoal Nogueira

Ingrato


 


Eu menti naquela hora...

E disse que não sabia...

Mas vou-lhe dizer agora...

A ingratidão pesa...

E para chegar não tem hora...


Em meio ao sol e ao riso da manhã...

Tudo isso existe...

Tudo isso é triste...


Nesse engano das horas...

Como alguém que tivesse esquecido...

Que assim sempre tem sido...

Ah ingrato...

Como será seu destino?


A noite, que o pesar...

Ao fim de cada dia...

Irá sempre me lembrar...

Que não sobrou nada...

Apenas cinzas frias...


Quero que saibas...

Se de súbito me esqueceres...

Também não me procures...

Porque já te terei esquecido...

O que outrora tenha sentido...


Minhas raízes sairão

em busca de outra terra...

A noite infinita enfrenta a vida...

Sem temer a ingratidão...

domingo, 4 de junho de 2023

Poço


 


Noite à fora...

Sobre uma navalha...

Ó divina esperança...

Sonho de criança...


O tempo a criar silêncio...

Tornando o sonho  poeira dos tempos...

Poço imenso e fundo...

Que engoliu meus desejos...


A ver no mundo seco a seca realidade...


Dos ébrios jogados à sarjeta...

Das matronas em penunbras das ruas da esquerda...

Dos pederastas em gargalhadas...

Disfarçando as lágrimas não jogadas...

Das mocinhas vendendo favores...

Em troca de licores...

Daqueles que só encontram alegrias...

Quando deixam suas garrafas vazias...


A vã loucura a moda é prima-irmã...

Mas quando vem o senso erguer-lhe os densos véus...

Desse desgosto...

Livrai-me Deus...


Salvo o meu desejar...

Teço beleza em tudo...


No hálito podre de um sugismundo...

No idoso porchetta...

Em quem que com qualquer um se deita...


Nessa langorosa magia...

Sob a lua que irradia...

As torpes paixões...


Sigo para meu descanso...

Aguardando, quiçá ...

Outro dia...


Valei- Deus...

Ou quaisquer outros guias...

Fim de noite...

Madrugada fria...


Eu próprio me interrogo:

– Onde estou? Onde estou?

E procuro nas sombras enganosas...

Sob essas horas mortas...

As mesmas coisas repetidas...


Inúteis os sonhos e as amarras

que nos prendem ao cais...

Mas quem sou eu que não escuto meus próprios ais?


Sandro Paschoal Nogueira

sábado, 3 de junho de 2023

Grãos de café

 



Era cedo...

Lavei e perfumei meu corpo...


O vento frio bateu no meu rosto trazendo-me a vontade de um café bem quentinho...


Existe um tempo certo para tudo...


Os amores são como os grãos de café na máquina de moer...


Primeiro um...

Depois outro...

E depois mais outro...


E todos vão para o mesmo destino...


Próximo? 


Sandro Paschoal Nogueira