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terça-feira, 3 de outubro de 2023

Anunciação


 

Anuncia-se esperança noutro dia...


Um dia que me viste...

Se é que me viste...

Tirando da alma os bocados de tudo o que sinto...


Teia de um tempo...

Que o nada representou...

E que acabou...


Acumularam-se os invernos...

Diante eternos segredos...


Estava tudo pronto para receber a felicidade...

Esperei-te...

E não viestes...


Agora é em mim que procuro...

O que em ti não encontrei...

Sem amores...

Nem ódios...

Nem paixões...


Assim a minha vida se desprendeu...

Do muito que sonhei...

Em ser apenas teu...


Tudo é pó...

Mas nem tudo foi em vão…


Mesmo que o que arda e que nunca cure...

Quiçá em uma curva...

Eis-me diante de meu coração...


Sandro Paschoal Nogueira


Profundezas


 

Profundo deve ser meu futuro...

Em desejo e em procuras...

Enquanto o mundo vai de mim fugindo...


Passa o tempo...

Estremeçam as estrelas...

Desfaçam-se os mitos...

Assim segue o destino...

Enquanto caminho...


O que está ou não escrito...

A sorte e seu revés...

A dor...

Um lamento...

Novos amores...

O milagre de cada dia...

O sorriso de um momento...

Escolho meus caminhos...


Encantarei a noite...

Darei vazão aos instintos...

Já não mais presos dentro do coração faminto...


Um céu e nada mais é o que temos...

Não te assusta o mistério?


Vem...

Caminhe comigo...

Escute o sopro das canções dos anjos...

Ao pé de nossos ouvidos...


No entra e sai de um minuto...

Deste rapto do tempo foge um grito...

Da cegueira das paixões...

Logo após o delírio...


Bemdita e efêmera passagem...

Vem...

Caminhar comigo...


Sandro Paschoal Nogueira

Tempo


 


Podes, ó tempo, entrar...

Eu te convido...

Não o temo...

Não sinto perigo...


Alma incerta...

Não se distrai de ti...

Bem feliz eu sou...

Bem sei assim...


Não seja só delírios e desejos...

Mas amor que vive e brilha...

Que penetre o meu ser...

Sim, vivo e quente como a luz do dia...


As saudades que deixaste...

Crepúsculos de outrora...

Foram boas e bem lembradas...

Até mesmo nas horas mortas...


Mas tu foges de mim...

Foges a cada instante...

Por mais que eu corra...

Nunca está a meu alcance...


Então guardo os meu sonhos mais lindos e mais queridos...

Mantenho a luz da esperança, sempre acesa…

Por mais que eu em alguns instantes desfaleça...


No imaginário desejo de alcançar-te ergue-se o meu desalento…

Afinal para onde me guias?


Sandro Paschoal Nogueira

Vácuo morto


 


Não sei por onde ando e para onde vou...

O que tinha de ser já foi...

Da vida que foi e hoje não é...

Já não importa o que vier...


Olhai o meu coração que entre gemidos soluça...

Cidade morta...

Campo santo...

Que já não sabe o que faz...


Mas o que há de novo?

Nem imprevistos...

Uma vida sempre igual...

Oscilando entre o bem e o que há de mal...


O tempo se alonga e também para todos os dias...

Estranha situação...

Sem explicação...


Tédio extremo da desgraça...

Aguardando os fins de semana...

Para saber se algo muda...

Porém continua a sanha...


Vácuo noturno...

Fantasmas desfilando em espectros sudários...

Seguem pelas ruas cantando...

As horas mortas das fantasias perdidas...


Na floresta dos sonhos...

Atravesso no escuro...

Mundo estranho...


Alma que de aspirar em vão delira...

Onde está a lua?

Ilusão pura...

Cadê as estrelas?

Sumiram...


A minha eterna angústia de revolta...

Cabelos brancos dai-me, enfim, a calma...

De morar em uma cidade morta...

Que segue cantando pela rua...

As saudades mortas...


Cobra comendo cobra...

Irmão corrompendo irmão...

Nas cordas de um violão...

A vaidade se enrosca...


A meia noite a vida encerra...

Nem rosto atrás das vidraças...

Na manhã seguinte o féretro anuncia...

Semana que vem tem festa...


E a juventude passa...

Enquanto juntam as moedas...

Arrotando suas grandezas...

Enquanto à mesa...


Perdoai meu Deus...

A minha triste esperança...

Transformai meu coração seco...

No coração de uma criança...


Ah que saudade...

Da inocência perdida...

Hoje apenas sobrevivo...

Escondendo minhas feridas...


Ah lugar que nasci...

Lugar que me criei...

Acordai antes que o tempo tudo consuma...

Da vida que foi e hoje não é...


Sandro Paschoal Nogueira

Círculos


 

Círculo dantesco da loucura...

Viver, vibrar no brilho da lua...


Por entre as almas nuas...

Ser doido, alegre em maior ventura...


Encarando...

Rindo...

A vida que me tortura...


Sem ver a falsa bondade...

Das línguas nervosas...

E as pompas de serem quem não são...


As ilusões que a desventura transforma em pó e cinzas...

Dos ermos que bem conheço onde o vento passa e ri...


Não reparaste nunca?

Das almas que tanto anseiam e jogam suas cartadas...


Dos males feitos sem querer...

Amores mortos sem terem nascidos...

Nas madrugadas cinzentas e frias...

Em ruas tristes e vazias...


E no esplendor que perde e nem chegou a ser...

Bem triste a pantomima. . .

Onde no silêncio esquecido...

Muitos escondem a própria dor...


Sandro Paschoal Nogueira

Túmulos caiados


 

Decerto que já falei...

Bem sabes o que penso...


As misteriosas palavras dos véus de minha alma…

Não morrerão sem perdão...


Porque vejo muitos que se mascaram...

E isso assusta-me o coração...


Túmulos caiados onde germina a podridão...

Onde se compram e se vendem...

Sem nenhuma hesitação...


Usam a virtude...

Arrastando a inocência e a simplicidade...

Como convém...

Para a mesma escuridão...


Falam-nos do amor...

Não o sentem...


De maneira tão triste e louca...

Que não percebem...


Para fingirem suas lágrimas...

Não pedem permissão...


E se tu nada deres...

Irás para o ostracismo...

Daqueles que não tem condições de nada em ti julgar...


Quem nunca amou...

Não merece ser amado...

Tristes histórias...

Tristes fados...


Serei sempre provinciano...

Seja como Deus quiser...

Cego ao mal que me trouxer...


Sandro Paschoal Nogueira