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sábado, 24 de fevereiro de 2024

Declive


 

No declive do tempo os anos correm...

Por mero acaso, sem saber porquê...


E antes que a bruma tire o brilho de nossos olhos...

Antes que gritemos e ninguém nos escute...

Antes que minha ausência se prenda a sua pele...

Permita-me fazer-te com o pouco que oferece-me mostrar-te o muito que posso dar-te...


Não me deixe fugir com o vento...

Ou perder-me de ti em lamentos...

Quanto mais sabemos...

Parece que mais erramos...


Ninguém já soube o que é o amor...

Se o amor é aquilo que ninguém viu...


Se devagar se vai ao longe...

Devagar te quero perto...

Se pouco me dás...

Muito te ofereço...


Tenho visto muitas coisas...

Algumas bem estranhas...


Da vida pouco entendido ...

Mas és para meus sonhos...

Todos os encantos requeridos...


Selecionei para ti essa manhã...

Para dizer-te isto...


Não tenho como voar...

De asas feridas...


Dentro de mim se acanham as certezas...


Por onde vai a vida?

Sem ti...

Será tão mal gasta...

Peito aberto em mil feridas...


Que este amor não me cegue...

Sei que nada me é pertencente...


Mas a magia evoco...


Entre seus abraços...

Abandono o peso do caminho...

E em ti me aporto...

O que estava perdido...

Por fim encontro...


Sandro Paschoal Nogueira

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Um sonho


Talvez sonhasse...

Com um mundo mais culto ...

Porém menos chato...

Com pessoas que exercitassem o cérebro...

Com o mesmo afinco que fazem com seus músculos...

Diante os espelhos...

Entre as latrinas...

Nós diversos banheiros...


Ranger de nevoeiro...

Terra de escravos...

Roupas justas...

Espíritos vazios...

Para que prego?

Para quem falo?


No fundo da virtude...

A terra é triste...

Olhos opacos...

Sorrisos sem graça...

Mãos que gesticulam...

Sem nenhuma dádiva...


Tempos estranhos...

Tempos esquisitos...

E eu que a tudo observo e sinto...

Fico perdido...

Não me acho...


Eu cavo na vida a semente da libertação...

Esquivo- me de falsos abraços...

De nojentos apertos de mãos...


Partes perdidas de um só...

Que a razão despedaçou...

As aparências tornaram-se mais importantes...

Todos querem respeito...

Anseiam ao amor...

Mas estão todos perdidos...

Caminhando em direção ao abismo...

Cada um por si...

E  tão só...


Deixo no ar...

Atrás de mim tão distante...

Os desejos de uma vida mais simples...


Plantar...

Cultivar e colher...

A verdade...

A sinceridade...

O amor tão escasso...

Hoje fadado ao fracasso...


Não há como encher a taça...

Tudo perdendo a graça...


A inocência é corrompida...

A dúvida disfarçada e mais sentida...

O purgatório decorado...

O túmulo é bem caiado...

Mas por dentro...

O mais fétido excremento...


Envelhecer é triste...

Não há novidade...

Tudo é tão repetido...

Até os sentimentos...

Nada se encontra...

Tudo é outrora...

Tudo já é perdido...


Há uma vaga brisa...

Soprada pela esperança de anos vividos...

Doçura dolorosa...

Independência da alma...

O mistério alegre e triste de quem chega e de quem parte...

De que sorri...

Enquanto a alma chora...


Sandro Paschoal Nogueira

 

sábado, 17 de fevereiro de 2024

Cansaço

 



Em todos os bares um bordel...

Vadias sem preço...

Segurando paredes pomposos bêbados...


Cães esfomeados...

Magros, cansados...

O pus escorre das portas às valetas...

Jovens fúteis...

Por favores fáceis e drogas...

Tornan-se proxenetas...


Gente de bem a vagabundear com a barba crescida...

Alguns desalinhados e fetidos...

Em todos os locais de turismo da cidade...

A disfarçar o pedacinho do céu perdido...


A falência da vida que vendiam...

Escondendo dores...

Decepções...

Vazios...

Atrás de falsos valores...

Disfarçados sorrisos...


É preciso suportar...

Fingir que nada faz sentido...

Não esmiuçar as parcas moedas...

Talvez estar também sempre bêbado...

Para esconder seu segredo...


É preciso viver entre os homens...

Disfarçar a hipocrisia...

Aspirar ao amor...

Para sufocar a dor...

Do grito vazio...

Da rotina maldita...

Do cansaço de tudo...

Do cansaço de todos...

Do cansaço da vida...


Sandro Paschoal Nogueira

Acaso


 


Um vento que soprava...

Testemunha de segredos da madrugada...

Promessas desconexas surradas...

Sob a calma das estrelas...

Entre as sombras de uma rua mal iluminada...


Um copo de bebida esquecido...

Enquanto o cigarro fumegava...

As horas loucas se perderam...

No ar onde a respiração doce arfava...


Óh...

A carícia da terra...

A juventude suspensa...

As coisas mais simples...

Sei que há diferenças...

Mas tudo se esquece...

Quando a gente se ama...


E já nada mais me doer...

Melhor até se o acaso...

Fizerem-me nessa rua deserta...

Encontrar você...


Sandro Paschoal Nogueira