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sexta-feira, 26 de junho de 2020

Flor amarela




#FLOR #AMARELA

A flor amarela...
Que vejo de minha janela...
Me faz muito pensar ...
Como a vida é singela...

Hoje aqui...
Amanhã não mais...
De modo triste venho notando...
Como andamos nos afastando...

Então venha cá,comigo falar...
Lhe espero no portão...
Traga um lindo sorriso...
Em troca do meu coração...

Onde está a fantasia...
De sonhar todos os dias...
Da amizade sincera...
Do bem...
De se dar...

Falar em gesto que oferta...
Pra lembrar que o amor é tanto...
É dando que se recebe...
Recebendo...
Vira encanto...

Uma flor ao cair no chão...
Pelo tempo que passou...
Tudo virou saudade...
De quem foi...
Me deixou...

Não se assuste se não por acaso eu lhe digo...
Do que ainda sinto...
Para mim ...
Não acabou...

Na pureza do espirito perfeito...
Com a dor na alma eu clamo...
Vem a mim...
Vou ao seu encontro...

Fazendo meu coração renascer...
Flor amarela...
Dou a você...

Sandro Paschoal Nogueira





Negra em mel



#NEGRA #EM #MEL

Linda mulher...
Que para mim sorri...
Faceira...
Bela...
Pronta a me seduzir...

Pele tão negra...
Quanto a madrugada mais escura...
Deusa de ébano...
Forte e segura...

Qual homem...
Que não se sente menino...
Quando seus olhos brilham...
Deixando qualquer um...
Em desatino...

Dai-me sua mão...
E guia meu destino...
Toma meu coração...
E me leva ao paraíso...

Deusa de mistério...
Um segredo a desvendar...
Estrela vespertina...
Vou lhe amar...

De andar gracioso...
Seios instumecido...
Virando minha cabeça...
Encontro-me perdido...

Seu perfume me tonteia...
Já posso imaginar...
Despertando loucos sonhos...
Sempre a lhe desejar...

Faça de mim...
Seu amante mais ardoroso...
Na teia do desejo...
Entrego-me com gosto...

Vou me perder...
Em seu abraço...
Mel de seus lábios...
Beber...

Ninfa da noite...
Pantera...
Ela é minha...
Eu sou dela...

Sandro Paschoal Nogueira

Cantei para você



#CANTEI #PARA #VOCÊ

Cantei uma serenata...
Debaixo da sua janela...
Me transformei em um vento...
Para roubar seu beijo...

Juntei no céu...
Todas as estrelas...
E nessa noite linda...
Enfeitei minha diva...

Dentro do seu olhar...
Eu pude me ver...
Já não mais estava sozinho...
Era amado por você...

Encontrei alegria...
Em seu sorriso apaixonado...
Me coração se fez em festa...
Por ter você ao meu lado...

Quisera eu ...
Já há muito ter percebido...
Que sem você....
Eu não existo...

Como é bom lhe amar...
Minha doce querida...
Agora eu já sei...
A razão de minha vida...

Possa Deus sempre permitir...
Todos os meus dias...
Lhe adorar...
Por toda a eternidade...
Quero contigo sempre estar....

A lua inveja sua beleza...
Quando o violão chora...
Cantando...
Lhe querendo...
Em toda hora...

Esse poeta...
Que faz juras de amor...
Oferta seu coração...
Minha linda flor...

Você é luz...
É raio de luar...
É magia...
É encanto...
Meu sonho...
Faz minha alma voar...

Então querida...
Linda mulher menina...
A você eu me entrego...
Por completo...

Sandro Paschoal Nogueira

Declínio



#DECLÍNIO

Ao pé de mim vem o entardecer sentar...
Tenho cá comigo...
Doce ilusão...
A me agradar...

Basta  sentir com clareza e vida...
Onde poucos têm a chance de observar...
Meu coração é um entardecer...
De suspiros ecoados no ar...

Eu não espero grandes coisas...
Apenas sou feliz...

Dentro de meu castelo...
Sem me dar conta das horas...
Que fogem ...
Perdidas e loucas...
Pelo tempo do mundo...
A fora...

Acho que nem lembro quem sou...
De onde me encontro...
A tarde declina em silêncio...
Sentindo a leve brisa me tocar...
Eu vôo...

Há coisas no mundo que são envoltas em mistérios...
Navego por eles...
Sem jamais pensar...
No fim que virá...

E tudo em que penso...
Nesse momento...
É que me encontro...

Sonhando...
Cada vez mais...
Nesse constante...
Meus olhos se perdem...

Enfim...
O dia está feito...
Perfeito...

Sandro Paschoal Nogueira

Rosa



#ROSA

Por mais que outras pessoas pintem o mundo de outras cores...
Aqui dou atenção ao rosa...

Dessa vida jocosa...
Continuarei fazendo troça...

Vou continuar cozinhando meu feijão...
Com bastante linguiça...
Dane-se o colesterol...
Penso na barriga...
Saber de vírus?
Esse assunto...
Falar desse assunto...
Já não consigo...

Se as manhãs...
Deus me presentear...
Agradecendo...
Sem ninguém ver...
Continuarei a bailar...

Em minhas estrelas...
Estarei caminhando...
Enquanto meu coração...
Continua sonhando...

Em meu jardim...
Todos os dias me surpreendo...
Ver a vida surgir...
Em algum momento...

A mais bela rosa abrir...
Minha madre-silva o ar perfumar...
A delicadeza...
De meu jasmim...
O meu chafariz jorrar...

Sim...
Eu também tenho muitos medos...
E deles faço meus segredos...

Não sou muito de sorrir...
Sou mais...
De bem no fundo, sentir...

Tenho medo de abraços...
Então me faço assim...
Com cara de mal humorado...
Virando o olhar...
Assusta-me minha alma...
Alguém vislumbrar...

Para mim todos os dias são belos...
Com chuva ou com sol...
Da alvorada ao arrebol...
Dos dias lembrados...
Daqueles esquecidos...
Memórias de um menino...

Minha cruz eu carrego....
Enfeitei com flores...
Não descortino meu rosário...
De lamentos e de dores...

Agradeco muito a Deus...
Quando para cá eu vim...
Tudo já esperava por mim...
Tudo já estava criado...
Bem cedo percebi...

E tão cedo assim...
Aos céus eu pedi...
Que pudesse viver em paz...
Em minha casa por fim...
Envelhecendo...
Cuidando de um jardim....

Mas não pense você...
Que eu sendo um simples jardineiro...
Fico meu tempo todo cultivando...
Terra aguando...

Deus é quem cria...
O homem transforma...
Leva uma semente...
Para lá, para cá...
Mas só o Criador...
Pode a vida dar...

Um dia serei pó...
Isso é muito certo...

E se mais um desejo eu puder ter...
Deixo aqui em testemunho escrito...
Uma flor...
Vou querer ser...

Uma flor rosa...
Perfumada...
Que talvez ninguém perceba...

Não serei triste...
Terei conforto no orvalho...
Das noites estreladas...
Serei companhia da lua...
E da brisa...
Amada...

E assim que o sol surgir...
Se ele me castigar...
Entenderei que mais forte quer me fazer...
Para aguentar...
As tempestades a vir...

Ganharei beijos do vento...
E como  poderei dizer...

Como flor sou feliz...

quinta-feira, 25 de junho de 2020

BARBA branca


BARBA BRANCA

Nessa barba branca...
Trago perfume de jasmim...
Conta as lembranças...
Da minha história...
De tudo que vivi...

Na alvura...
Melodias de cantigas...
Do que muito já sonhou...
Dos mistérios e segredos...
De quem já amou...

Às vezes aparo...
Raspo ou deixo crescer...
De acordo com meu desejo...
Como quero ser...

Já viu alegrias...
Tristezas também sentiu...
Já se banhou...
De lágrima solitária...
Que pelo rosto rolou...

Já recebeu carinhos...
De quem muito queria dar...
Nunca quiseram a ela...
Mal tratar...

Sorriso de lado...
Meio envergonhado...
Barba cheia...
Atrevida...

Proponho uma ousadia...
Desfazer...
Em sua pele...
Macia...

Sandro Paschoal Nogueira

Aluguel

#ALUGUEL

Pois é...
Você que me vê por aqui...
Sempre escrevendo...
Postando...
Algumas vezes...
A sorrir...

Mas eu vou confidenciar...
Deus não coloco à prova...
Entrego meus caminhos...
Assim eu me sinto...

Hoje aqui estou...
Amanhã já não sei...
Não quero do vírus...
Virar freguês...

Quarentena pela pandemia...
Conservatória...
Em maresia...

Minha pousada...
Ainda fechada...
Outras, escondidas...
Não se preocupam com nada...

Recebem turistas...
Escondidos...
Mas não será aqui eu...
Quais delas...
Não digo...

Vendo na internet...
Tanta gente cozinhar...
Tanto quitutes...
A me aguar...

Tomei decisão...
Parado não posso ficar...
Meus sapatos...
Resolvi alugar...

É só uma notinha azul...
O aluguel...
Pode usar meus calçados...
E se sentir no céu...

Por 40 minutos...
Você usa meus sapatos..
Finjo que não vejo...
E fico mudo...

Tem 53 pares a escolher...
Você vai gostar...
Pode crer...

Se ainda quiser...
Roupa combinar...
Tenho couro...
Seda, veludo, linho...
Para usar...

Tem coisa nova...
Que nunca usei...
Casacos de pele...
Chinês...

Tem gorro de russo...
Fica lindo...
Aquece muito o frio...
Eu digo...

Só em contato entrar...
Marcar hora...
Vir aqui...
Tocar campainha...
Aguardar...
Já já lhe recebo...
Mas não se esqueça...
Da notinha de 100 trazer...
Sem ela não tem conversa...
Não vou lhe atender...

Sandro Paschoal Nogueira

Perdendo e não vendo



#PERDENDO #E #NÃO #VENDO

Garoa na rua...
Pela manhã...
Fria...
Nascer do sol...
Mais um dia...

O trem parado...
Recebe cuidados...
Cachorros vadios...
Abandonados...

Vento frio, sopra...
Entra na roupa...

Pastel da rodoviária...
Um pingado...
Daqui há pouco...
Vai me deixar...
Abastado...

Sentado na calçada...
A barbearia aberta...
Fila começa...
Na farmácia...

Pessoas sobem e descem...
Carros buzinam...
Nem sei quem são...
De máscaras...
Conheço não...

A tarde chega...
Boas lembranças...
Acompanham...

Um tucano...
Escondido...
Dá seu grito...

De olhar risonho...
Me apanho...

Já não caminho...
Ouvindo musica...
Já não bebo...
Um bom vinho...

No céu tem nuvens...
Andorinha voa...
Quem nunca viveu...
Precisa voar...

O mercado pequeno...
Lá hoje...
Nada tenho para comprar...

A padaria quase da esquina...
Pão de cebola...
Lindas meninas...

Das casas, a fachada...
Os vizinhos ainda são os mesmos...
Tem lua...
Mas sem serenatas...

Tudo se mistura dentro de mim...
Graças a Deus...
Ainda estou aqui...

Lembro e penso...
Em tanta coisa ao mesmo tempo...

Ninguém viu...
Quase ninguém mais vê...
No céu de Conservatória...
Em noites...
Estrela descer...

Tudo dentro de casa...
Em mundos trancados...
Internet ligada...
Do real...
Desligados...

Talvez poucas saibam...
Não se deram conta...
O que passou...
Não retorna...

Agora é a hora...
Quando for fazer algo...
Faça o melhor que puder...
Amanhã...
Se ainda perceber...
Irá lamentar...
O que se deixou...
De viver...

Sandro Paschoal Nogueira

domingo, 21 de junho de 2020

Alguma razão



#ALGUMA #RAZÃO ?

Tudo tem um encanto...
No bem ou no mal...
A gente inventa um romance...
Uma saudade...
Uma mentira...
Em nossas travessias...
Na vida...

Viver um amor...
Sorrir de alegria...
Chorar de tristeza...
Sonhar...
Ter nossas fantasias...

Eu ouço...
E em tudo muito  me calo...

Suspeito da mentira na verdade...
Enlaço-me  de vaidades...

Um anjo caído...
Fazendo  questão de esquecer...
Empurrando para as sombras...
O meu sofrer...

Não sei voar de pés no chão...
Também não sei...
Tão fácil..
Entregar meu coração...

Tenho medo...
Muito...
De tomar alguma decisão....

Na verdade, nada é tão certo...
Não é questão de parar no tempo...
A arte de ser louco...
Consiste  em olhar...
De diversos modos..
O mesmo ponto...


Sandro Paschoal Nogueira

quarta-feira, 17 de junho de 2020

Alma-de-gato



Apareceu aqui na Pousada Casa do Sandrinho Hospedagem Conservatória

É a primeira vez...
Que assim eu vejo...
Um Alma-de-gato...

Alma-de-caboclo...
Tão bonito...
Aqui apareceu...

Tal qual Alma-perdida...
Meia-pataca...
Uma Maria-caraíba...

De Pato-pataca...
Com Rabo-de-palha...
Cheio de Picumã...
Queria Oraca...

Prestei atenção...
No Rabo-de-escrivão...
Fazendo Piá-ribolanga...
Fazendo Crocoió...
Com meu Chincoã...
Será que era de algum clã?

Pecuã...
Uirapagé...
Feliz da vida...
Comendo inseto...
Em meu pé...

Fiquei quietinho...
Bem espertinho...
Tirando foto do Atinguaçu...

Que de galho em galho pulava..
Um Titicuã...
Procurando Atibaçu...

Não encontrou o Coã...
Não cantou o Tincoã...
Só me restou o Atingaú...
No pedaço de pau...
Solitário afinal...


Sandro Paschoal Nogueira

Observo




#OBSERVO

Vivo em tempos sombrios...
Causando-me arrepios...
Quem ainda sorri...
Não recebeu a notícia ruim...

Que tempos são esses?
Vou lhe dizer...
Só pode pensar...
Nada pode falar...

É preciso tantos dedos...
Inúmeros tatos...
Para não machucar ...
O chato fraco...

Se minha sorte me deixar...
Ficarei perdido...
Mundo de sombras...
Perdendo juízo...

Entre florestas da ilusão...
Não quero me perder...
Minha estrela guia...
Aonde está você?

Sou vários, menos este...
Diferente desse que aqui está...
Até quando terei...
Que me ocultar...

Viver só é a minha realidade...
Inocência há muito perdi...
Não quero flertar com a maldade...

Que fazer, para o consolo?
Na luz perdida lá do meu passado...
As esquinas podem ser outras...
Mundo conturbado...

Seria meu maior sonho...
Se não fosse tão real...
Não vejo nada a minha volta...
Vencer o bem...
Morrer o mal.



Sandro Paschoal Nogueira

Orixás




#ORIXÁS

Em uma casa branca...
De telhados cinzentos...
Grande portão de madeira...
Eu me vi ali dentro...

Uma bandeira alva...
Bem no alto tremulava...
Silêncio respeitoso...
De yawôs que ali estavam...

Sobre a esteira - eni...
Um ancião sentado ali...

Sagrados objetos de Opon-Ifá...
Pude bem observar...
O jogo estava pronto...
Era hora de Orumilá falar...

Tinha já hora marcada...
Muito queria saber...
Tantas perguntas...
Para o babalawô responder...

Abanou-se com o irum-kerê...
E os okins foram jogados...
E maravilhado...
Pude ver...

Ifá começou a falar...
Odu manifestou...
Traçado singelo escrito...
Cheios de significados...
Se revelou...

Agora já era sabido...
Qual destino era meu...
O que eu tinha a fazer...
Que atitudes a tomar...

Me banhei de ervas frescas..
Alecrim e mangericão...
Arruda, guiné...
Erva tostão...

Então comecei...
Com minha grande jornada...
Em grande encruzilhada aberta...

Com farofa e aguardente...
Exu invoquei...
Pedi licença e segui adiante...
Para trás não mais olhei...

Seguindo caminhada...
Pela longa estrada...
Ogum gritei...

Que me desse bons caminhos...
Em minha jornada...
Se eu tivesse inimigos...
Que a vitória me fosse dada...

Na beira da mata...
Odé estava lá...
Se eu quisesse a fartura...
Ele poderia me dar...

Me aconselhou a ter persistência...
"- Tudo tem que ter paciência...
- Um bom caçador  - avisou...
- Tem que ter prudência..."

Moedas e fumo de rolo...
Com Aroni pude barganhar...
Somente assim...
Ossãe poderia me ajudar...

A fronte no chão bati...
Paó ecoou...
A terra tremeu...
Na rachadura...
Omulu apareceu...

Em meus braços e tornozelos...
Amarrou palha da costa...
Força me seria dada...
Eu venceria...
Não conheceria a dor da derrota...

Também eu teria...
Saúde e paz...
Me prometeu o senhor da terra...
Que não me abandonaria jamais...

Então ao meu encontro veio...
Um poderoso rei...
De cabelos trançados...

Todo garboso...
Do trovão o poder...
Tamanha foi a visão...
Diante de sua autoridade...
Me prostei...

Sua voz poderosa...
Grande e forte brado...
Empunhando dois oxês...
Dois machados...

Usando esplêndida coroa...
Tirou de sua cabeça...
Colocando em minha mão...
Justiça sendo feita...
Com toda precisão...

Era Xangô...
Que ordenou a Oiá...
A todos os maus eguns...
Afastar...

Forte vento soprou...
Levantando muita poeira...
O céu relampejou...
De imensa beleza...

Iansã os chifres de búfalo me deu...
Toda vez que eu precisasse...
Era só por ela chamar...
"- Filho...Agora você também é meu..."

Me levou na cachoeira...
Onde a mãe do ouro se banhava...
Tão linda me encantou...
Oxum também me presenteou...

Pequeno seixo branco...
Tirada de seu adê...
" -Leve contigo esse seixo...
- Em hora certa saberá o que fazer..."

Mãe me alimentou...
Com a caça de Logun Edé...
Matou minha sede...
Me deixando ali ficar...
"- Durante o tempo que você quiser..."

Porém, não era essa minha intenção...
Por mais assim quisesse eu...
Carinhosamente me indicou...
Segui o rio abaixo...
Que era seu...

Ondes as águas eram mais bravas...
Obá eu encontrei....
Valorosa guerreira...
Disposta a me guiar...
Me levou para a lagoa de Ewá...

Em lago plácido entrei...
Para a menina deusa encontrar...
Com Oxumarê a donzela brincava...
Junto às águas sagradas...
Da lagoa encantada...

Flores rosas eu ganhei...
E a grande dã ofereceu...
Comigo cruzar o firmamento...
Às águas de Iemanjá...
Poderia me guiar..

A grande mãe já me esperava...
Em seu palácio submerso...
Feito de corais...
Montanhas de ouro...
Navios naufragados...
Eram seu tesouro...

Me mostrou todo o okum...
Nosso berço ancestral...
Aonde ela aprisionava...
Todo e qualquer mal...

Em barco de espuma naveguei...
Ao encontro da nossa origem...
Junto a mim...
Levando os presentes que ganhei...

Seria bem recebido pela grande senhora...
Dona da fatídica hora...

Conheceria a grande Nanã Buruquê...
Anciã de grande respeito...
Morava em casa de barro e estuque...
Já estava assim tão perto...
De tudo esclarecer...

A mais idosa...
Senhora do mistério...
Carinhosamente me recebeu...
Me indicando o caminho...

Antes me aconselhou...
Às Iamins não ignorar...
Sem a precisão delas...
Ninguém poderia me auxiliar...

Oxumarê que ainda...
Junto a mim estava...
Me guiou pela terra...
Das grandes águas paradas...

Então chegando ao cume...
De uma grande montanha...
Estava ali quem eu tanto procurava...
Dando fim a minha campanha...

Ajalá...
O grande orixá...
Moldador de todo ori...
A quem eu deveria...
Que de Oxum ganhei...
Entregar o okutá...

Olodumare então sorriu...
Olorum ficou em festa...

Todo o mundo tremeu...
Tal qual palmeira ao vento...

Ergui minhas mãos aos céus...
Fazendo meu agradecimento...
Pela dádiva recebida...
Reforçando meu comprometimento...

Agradeci a Ifá...
Agradeci a Orumilá...
Pedi a benção a Oxoguiã...
Beijei a mão de Oxalufã...

Me deitei aos pés de meu senhor...
Ododuwá...

Meu odum estava completo...
Meu destino se cumpriu...
Meu coração em paz...
Minha alma  floriu...



Sandro Paschoal Nogueira

De repente...




#DE #REPENTE

De repente não somos mais criança...
Quando mudou?
Quando houve a mudança?

De repente a calma se vai...
Sopra o vento...
Em um.momento...
Já não é mais...

De repente, assim como a chama brilha...
Também se apaga...
Tudo muda...
Tudo se acaba...

De repente em longas horas que passamos na escuridão...
Ouvindo aquela antiga canção...
Já não mais nada há a dizer...
Já é hora de voltar à vida...
Não mais sofrer...

De repente, tomando coragem...
Quando maior for a vontade...
Posso lhe dizer...
Do grande afeto que tenho por você...

De repente posso estar fazendo o impossível...
Mostrando o que sinto...
Chamando sua atenção...
E lhe dando meu coração...

De repente eu não consigo mais falar...
Fico sem chão...
Fico sem ar...
Quando encontro a luz...
De seu olhar...

De repente percebo de que não tenho saudade de nada...
E que nada foi mais importante...
Antes de encontrar você...

De repente torna-se loucura lamentar o tempo... 
Nada foi importante...
Agora é o instante...

De repente, não mais que de repente...
Talvez isto já lhe tenha acontecido...
Mas agora no momento inesperado...
Aconteceu comigo...

De repente tudo faz sentido...
Nossos olhos se cruzam...
Nossas mãos se entrelaçam...
Nos achamos em abraços...
Nos perdemos ...
Em longos beijos...
Corações descompassados...

Então não de repente...
Nesse encontro tão sonhado...
Compreendemos de fato...
Que já não mais podemos...
Nos afastarmos em nenhum mais momento...
Que o amor brotou...
Que sem mim...
Você não é...
E sem você...
Nada sou...



Sandro Paschoal Nogueira

#CAMINHOS #DE #UM #POETA #NASCIDO #EM #CONSERVATÓRIA

http://conservatoriapoeta.blogspot.com

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terça-feira, 16 de junho de 2020

O que sinto




#O #QUE #SINTO

Chegou sem mimos...
Sem falar de flores...
Nem de badalos de sinos...
Nem de amores...

De olhar flamante...
Invasor...
Resgatou algo em mim perdido...
Sem muito esforço...
Me conquistou...

Sabendo o que sinto...
De andar compassado...
Bem barbeado...
Vestido galante...
Sedutor...
Me tocou...

Mãos grandes e fortes...
Em um arrepio...
Vi minha sorte...

Ninguém ousaria...
Dizer ser tão desfrutável...
Aceitei seu olhar...

Eu seria...
Já queria...
Me entregar...

Não precisei beber...
Para coragem ter...
Não queria  conversar...
Mas sim me envolver...
Àquele olhar...
Que tudo prometia...

Empunhando uma brandura dissimulada...
Ele já prenunciava..
Cordialmente aceitava...
Sua vitória...
Que eu concedia...

Não havia por que ter resistência...
Ninguém queria...
Sem tempo...

Não era hora...
De ilusões mentidas...
De jogos e conquistas...

Tão galante...
Bom amante...
E eu ali...
Tão perdido...

Homem volátil...
Por devoção...
De cheiro forte...
Sedução...

Sabe o que sinto...
Sabe o que quero...
Não se fez de rogado...
Levou-me a sério...

Óh... céus...
Que luxúria...
Com isso...
Não posso mais lutar...

Também não quero...
É mais que preciso...
Nem é bom tanto pensar..

Nem tudo tem por quê...
Mas o que estou eu a dizer?

Bradando contra esse vício...
Me rendo...
Só ele sabe...
O que agora sinto...

Rasgando minha esperança...
Me entrego na festança...
Dentre os braços que cerrados me tem...
Já não sou mais ninguém...

Já no leito...
Em tudo me toca...
Onde sua mão alcança...
Isso em nada ...
Me amansa...

Palavras desconchavadas...
Sandices ritmadas...
Seu corpo alinhando ao meu...
Levando-me ao apogeu...

Maciez torpe...
Onde tudo sinto...
Não controlo ...
Meus gemidos...

No leito que clama...
Quem me dá...
Também me tira...
Levando à loucura...
Tamanha tontura...

Rendido, quebrado...
Pelo seus gestos de amor...
Me dou por vencido...

Um olhar lânguido...
Muitos suspiros...

Rompendo férreas algemas...
Por completo...
Ele muito sabe...
O que sinto...

Derrotado e vitorioso...
Com o estranho...
E meu ninho...
Adormeço...
Esquecido...



Sandro Paschoal Nogueira

Um dia de garoa



#DIA #DE #GAROA

Lá fora...
O céu chora...
Se é de alegria ou de tristeza...
Não posso dizer...

Vejo o balanço das horas...
E o que me acontece...
O que agora...
Há de ser...

A bocejar...
Um sol em dia nublado...
Garoa...
Frio...
Aqui está...

Não estou tão sozinho...
Sim, eu vejo...
Em meu jardim...
Ali molhado...
Um anjo solitário...

Com um sorriso me convida para brincar...
Diz com seus olhos...
A vida é bela...
Vem comigo festejar...

Um retrato na parede...
Olha para mim...
Sorrindo diz:
- Vai sim...

Olho para o jardim de cá...
Breve brisa chega...
Minhas flores bailando...
Me convidam,também, para esse encanto...
Me chamam para com elas...
Também dançar...

Trinca-ferro, canarinhos, sábias...
Fazem festa no canteiro...
Doces trinados...
A orquestra...
O pardal é o maestro...

Minha rosa tão linda...
Me oferece seu perfume...
Até o meu cravo...
Esqueceu seu queixume...

A flor-de-liz me diz...
Que hoje é um único dia...
Já não mais repetirá...
Essa fantasia...

Dálias e hibiscus...
Entrelaçam seus galhos...
No balanço do vento...
Amam-se em compassos...

Lírios e jasmins...
Todos orvalhados...
Festejam a dança...
Do bem-te-vi...

Nem sempre os dias mais belos...
São aqueles de azul intenso...

Eu já amo...
Qualquer variedade no tempo...

E o anjo que continua a me sorrir...
Já me estende a mão...
Aceito seu convite...
Suas asas vão me cobrir...

A fonte, num sussurro...
Desvenda um segredo...
Diz que o amor é eterno...
Para quem tem o coração sincero...

Então, tal qual menino...
Pisando nos astros ...
Em firmamento...
Vou bailando...
Me entrego...

Ao sabor do vento...
Eternos momentos...

E o dia fica mais lindo...
Tudo mais belo....
Em minha casa...
Meu jardim...
Meu castelo...



Sandro Paschoal Nogueira

Geraldo



#GERALDO 

Era ainda madrugada...
Cobertas frias...
Abandonou o leito...
Contra gosto...

Não tinha jeito...
Era pra ser feito...

Esposa ainda dormia...
Grávida sonhava...
Que em algum dia...
Sua vida melhoraria...

Casa pequena...
De dois cômodos apenas...
Dividida por cortinas...
Surradas chitas...

Paredes de madeiras...
Telhado de amianto...
Um gato velho e magro...
Que dormia em qualquer canto...

Olhou com ternura ...
Para sua amada...
Com dó no peito...
Para sua mãe idosa, acamada...

"Até quando ela sofreria?"
Pensava...com grande pesar...
Resignado...
Ao que nada poderia mudar...
As duas mulheres que mais ele amava...
E por quais era muito amado...

Arrumou sua marmita...
Colocou em sua surrada mochila...
Sem fazer barulho...
Com zeloso cuidado...
Tinha que ir ao trabalho...

Tanto frio...
Blusa esburacada...
Sozinho...
Naquela rua abandonada...
Tão longe ainda estava...
A alvorada...

"Vai Geraldo...Vai trabalhar...
Nas sombras das sarjetas...
Só os ratos a lhe olhar..."

Vielas tortas, escuras...
Sujas...
Esgoto a céu aberto...
Único som na hora...
Eram de seus chinelos...

Mas sem medo...
Adiante ia...
Em Deus confiava...
Não temia...

No ponto de ônibus...
Um cigarro ascendeu...
Esquentando a mão...
Afugentando a solidão...

Enquanto o ônibus não vinha...
Na fumaça que subia...
Para Deus orava...
E pedia...
Um término na  tristeza de sua vida...
Naquele dia...

"Devemos ter muito cuidado...
Com nossos pedidos...
Vai que um anjo escuta...
...E vai ser concedido..."

Condução chegou...
Como sempre lotada...
Viajando em pé...
Pernas já ficaram cansadas...

Era apenas uma lotação...
Tinha mais uma pela frente...
Pesaroso sabia...
Que adiante , mais e mais gente...

Enfim...
Chegou ao trabalho...
Pela manhã...
Já estava suado...

Por momentos esteve alegre...
Ouviu vários bons dias...
De seus amigos tantos ou mais como ele...
Desafortunados...

As mãos calejadas...
Fortes e grossas...
Eram leves...
Na pele...
De sua cabrocha...

Aquele dia...
Seria de grande alegria...
Poderia levar para casa...
Um pouco de carne moída...

Seria sustância para a mãe doente...
Para o filho que viria...
Também teria...algo mais...
A colocar...
Em sua pobre marmita...

Sua amada saberia ...
Como preparar...
E naquela noite...
Já antevia...
Muito amar...
A esposa querida...

Sorrindo...
Refez todo percurso de volta...
Esqueceu de todo cansaço...
Só lembrando dos amigos...
As brincadeiras e lorotas...

Comprou o que desejava...
E ainda sobrou uns trocados...
Sentiu-se um grande homem...
Recompensado...

Já era tarde...
Quase noite...
A rua estava cheia...
Bem diferente...
De quando acordara...

Fogueteiros de olho...
Comércio cheio...
Não estava a tudo alheio...
Nem ao forte cheiro...
Do baseado....

Então, de repente...
De cores o céu se fez...
Tiros...
Estampidos...
Correrias...
Confusão...
Olhos apavorados...
Pessoas correndo...
Sem direção...

Uma bala perdida...
De onde veio...
Ninguém sabia...
Encontrou Geraldo...
Que não merecia...

Naquela noite...
No triste casebre...
Não teve mais alegria...
A cabrocha chorou...
A mãe doente, mais ficou...
E o velho gato..
Nada compreendendo...
Deitado ficou...

E para a história terminar...
Tão triste para mim...
Lhe contar...
Só resto uma alegria...

Na sarjeta suja e fria...
Comemoravam com sua cria...
Gorda ratazana, velho rato...
Devoravam em festa...
A carne moída...

Desconheciam, a triste sina...
De Geraldo...
E sua família...



Sandro Paschoal Nogueira

segunda-feira, 15 de junho de 2020

Tão assim



#TÃO #ASSIM...

Um olhar tão profundo...
Querendo descobrir o mundo...
Um sorriso..
Uma atenção...
Alguém para alegrar...
O coração...
Na tristeza que vê...
Tanto a esconder...
Na luz que incendeia...
Torvelinho em cadeia...
Não consegue manter...
O sustento que deseja...
Tem medo que vejam...
A sua pena...
Foge e disfarça...
A sua graça...
Espelho da alma...
Ah quem dera...
Nesse olhar me entregar...
Me perder...
Me encontrar...
Diria eu...
Com alegria...
Que assim seria...
Tão feliz...
Em lhe amar...
Todos os meus dias...



Sandro Paschoal Nogueira

sábado, 13 de junho de 2020

Quase uma prece



#QUASE #UMA #PRECE

Para alguns falta o pão na mesa...
Para outros, a alegria de viver...
Alguns são ricos e abastados...
Outros tantos nada fazem por merecer...

Não há mentiras...
Não há mistérios...
No escondido...
Aonde nascem as preces...

Nossas vidas precisam recomeçar enquanto há tempo...
Enquanto ainda existir horizonte...
Sempre sonhando...
Adiante...

Mas se  você não acredita nisso...
Lamento...
Assim eu creio...
Posso e quero...

Mude seu destino e tenha fé...
Se cair...
Ponha-se de pé...

Veja no amor a chance da luz aflorar...
Em tudo...
Que está no ar...

Onde os minutos fazem toda a diferença...
Possa Deus, meus pensamentos, silenciar...
Encher-me de paz...
Preparando minha jornada...
Colorindo...
Com muitas flores...
Minha estrada...



Sandro Paschoal Nogueira

Ele



#ELE...

Acordou...
Mais um dia qualquer...
Em sua senda...
De viver...

Banhou-se com a luz do dia...
Disfarçou sua tristeza em alegria...
Foi caminhar...
Queria pensar...

Aqui, ali...
Lá, acolá...
Um bom dia...
Bom lhe ver...
Estou bem...
Como vai você...

Nas pedras suas sandálias faziam barulho...
Em seu peito...
Um silêncio mudo...

Perto das águas sentou...
Com uma flor entre os dedos...
Brincou...

Quem assim o visse...
Podia supor...
Diria o quanto era feliz...
Aquele sujeito...
Sem nenhum pudor...

Ele em sua solitude...
De certa forma era feliz...
Não somos as escolhas...
Que fazemos?
Não é isso que se diz?

A felicidade é apenas um momento...
Encontrado no tempo...
Às vezes chorar é bom...
Lava nosso coração...
Nem sempre ostentar sorriso...
Mostra a realidade...
Soa como falsidade...

Para ele os dias passam rápido...
Mesmo diante da rotina...
Massacrante...

Ele bem sente...
A grande maravilha...
No insistir...
Da vida...

Quando uma pequena semente...
Luta por viver...
Quando uma flor abre...
Quando um pássaro voa...
Quando o sono vem...
Quando sonha...

Sua filosofia...
Seu modo de viver...
É bem simples...
Isso posso dizer...

Tudo o que está em cima...
É igual ao que está embaixo...
Sempre perseverando...
Enquanto os anos vão passando...

Há tantos mistérios...
Esconderijos na alma...
Algumas verdades incertas...
Enquanto outras nos liberta...

Suas verdades nem sempre são certas...
Mas fala o que pensa...
Porém  nem todo mundo aceita...

Assim, segue em rumo ao indefinido...
Procurando nas estrelas...
O que mais de puro...
Guarda consigo...

Inocência ainda...
De um menino...

Sandro Paschoal Nogueira

Minha rua



#MINHA #RUA 

Moro em uma rua esquecida...
Abandonada, a mais escura...
Cachorros cagam nela...
Há 1/2 século vejo pela minha janela...

Em minha esquina ...
Começam as serestas...
Mas logo sai de minha rua...
Só deixando a solidão nela...

Tem uma calçada de estrelas...
Muita calma nessa hora...
Apenas uma homenagem...
Aos grandes menestréis das serenatas...

Lindos sonhos sonhei...
De ver muita alegria...
Sempre contando os dias...
De tudo que existe...

Que tristeza...
Pura quimera...
Rua tão triste...

Horas mortas...
Do amanhecer ao anoitecer...
Que me faz sofrer...

Última a ser enfeitada...
Em festas, pouco iluminada...
Até o padroeiro Santo Antônio...
Hoje não passou por ela...

Acesso para a cidade...
De casarões coloniais...
Resistência de antigos moradores...
Poucos, quasem não se encontram mais...

O comércio é escasso...
Poucas lojas de fato...
Uma igrejinha presbiteriana...
Pouco aberta na semana...

É a rua que mais árvores tem...
Entre duas praças...
A da matriz que um dia teve um lago...
E a da feirinha com artesanatos...

Rua do hospital...
De farmácias...
Se passar mal...
Ali você se acha...

Tem pousadas...
Uma delas é rosa...
Namoradeiras sonhadoras...
Sempre alguém querendo prosa...

Linda cidade de Conservatória...
Quando no céu a lua aparece...
Um violão solitário chora...
Eis que é a hora...
Das pedras contar suas histórias...

Nessa rua eu cresci...
Nessa rua eu brinquei...
Nessa rua eu vivo...
E se Deus me permitir...
Daqui partirei...

Mas agora eu só queria mais ver...
Mais alegria e muitas flores...
A florescer...

Durante o dia pouca gente...
Na madrugada só gambá...
De viralatas muita bosta...
Cuidado quando andar...

Sandro Paschoal Nogueira