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sexta-feira, 15 de março de 2024

Esperando


 

Que lucrei, eu, Senhor com o tempo perdido?

Num e noutro despojo me achando o que a vaidade me propôs...


Nunca mostramos o que somos, senão quando entendemos que ninguém nos vê...

Mas se ninguém nos vê o que importa afinal ser ou parecer?


Escoar-se é um desperdício...

Assim como aprisionar o vento...

Pouco se ganha...

Tanto se perde...

Tantas coisas sem sentido...


Homem que sou...

Ó divina esperança onde estás que comigo brinca...

E não me convida à dança...


Tu que transforma os sombrios pedadelos em sonhos dourados...

Que nos inflige e nos obriga a levantar da cama...

Virgem de eterno devaneio...

Que hoje minhas mãos não alcançam...


A rotina é tão pesarosa...

As mesmas pessoas enfadonhas...

Dentro de mim, a noite escura e fria se anuncia...


Que me olhar não se perca...

Entre tantos outros que passam...

E farto de fadigas...

E de fragilidades tantas...

Que amanhã...

Em outro dia...

Então...

Eu floresça...


Sandro Paschoal Nogueira

quinta-feira, 14 de março de 2024

Macumba


 Quem me jogou macumba?

Pedras


 


Há entre as pedras um murmúrio de queixume...

E nada mais se ouve ao longo das ruas...

Ocultos, na agonia das casas, velhas saudades de olhos que fitam o nada...


Apressa-te, amor, que amanhã eu morro...


Destila-se de lágrimas as  preces e  a profecia...

Do que outrora havia...

Do futuro que se avizinha...

Tremem mãos...

Escondidas nas cortinas...


No abismo do pretérito foram-se os dias...

Caminhantes se vão da terra...

Perdidos na própria sombra...

Levando consigo seus sonhos e histórias...

Deixando para trás...

Apenas algumas lembranças partidas...


Não demores tão longe...

Não se esconda em lugar tão secreto...


Anos após anos...

Seguimos aprendendo mais com os desenganos...

Meu ser traçado pelo som do vento…


Apressa-te, amor, que amanhã eu morro...

Amanhã morro e não te vejo...

Amanhã morro e não te escuto...

Não demores tão longe...

Não se esconda em lugar tão secreto...


Todos passam...

As pedras não...


Queixando-se dias após dias...

Por serem ignoradas...

Dos que ainda ficam de vozes amargas...

Urdindo a grande teia... Sobre nós a vida...

Não demores tão longe amor...

Que amanhã eu morro...


Sandro Paschoal Nogueira

domingo, 10 de março de 2024

Liberdade


 

Graças a Deus que estou doido...

Que se sabe da vida?...

Dizem que finjo ou minto...

Eu simplesmente sinto...


Tudo o que sonho ou passo...

Nem sentes...

O vento levará os meus mil cansaços...


Ainda correm lágrimas...

Na soledade pensativa...

Escondida...

Disfarçada em sorrisos...


Sei que nada me é pertencente...

E lá fora na estrada...

Pensando coisas profundas...

Compreendo que sou livre...


Livre ando de enganos...

Mas de olhos postos nas coisas, distraído...

Aberto por um vento muito brando...

Acolhendo sempre um pouco de mim mesmo...


Mistério maior é este

que liga a liberdade e o homem...

Acendendo a Deus este segredo...

Fazendo-me feliz eternamente...


Sandro Paschoal Nogueira

Comprometimentos


 

Preencher os anos que nos moldam...

A que destino...

A que ritmo, sem preço...


Co’as asas que lhes pôs benigna sorte...

Amigos da ventura...

Dos homens que não conhecemos...


Enquanto a turba ralha...

Somos nós as humanas cigarras...

Somos nós os ridículos comparsas...

Que atravessam o tempo...


Asas que em certas horas...

Erguem a um campo de maior altura...

E bebemos o doce vinho em nossa honra...


Que me importa que batam a minha porta...

Importa saber da importância...

Que entre nós, sem limite, vai lavrando...

Dia após dia...

Os múltiplos comprometimentos...


Sandro Paschoal Nogueira

quinta-feira, 7 de março de 2024

Suave


 

Só te abracei...

Nos sonhos que sonhei...

Suave...

Como a dança quando o vento beija e balança...

As flores do meu jardim...


Sereno...

Sem desejos...

E do fundo de meu peito...


E no momento em que o limite extremo da ribalta mais brilha...

Mais te amei...


Um amor que tudo pede...

Um amor que tudo dá...

Sem que jamais se explique ou desenrede...

Tamanha fome de amar...


Será talvez começo…

Que a minha alma pressente…

Um consumir-se a cada instante...

Perdendo o passo antes certo...

Um consumir-se a cada instante...


Sonhar sempre...

A dura realidade dispensar...

Dor que a minha alma tem...

Por não estar aqui...

Para te amar...


Talhado é o golpe da ilusão...

Acompanhando-me os dias...

Sonhando te tenho...

Acordado...

Agonia...

Só desilusão...


Sandro Paschoal Nogueira


Fingimentos


 


De que te serve o mundo que desconheces?

Talvez, acabando, comeces…


Fazes falta?

Enfim fica triunfante da dúvida a tirania...

A sorte sem piedade...

Passando por ermas noites...

Renovando todos os dias...


Há momentos que são quase esquecimentos...


Prometem-me uns vãos cuidados...

Promessas de outros mundos perdidos...

E assim consigo...

Possuir em sonho o que morreu...

Fingir que tudo está bem...


Mas para quem finjo afinal?

Por que enganar-me nesse mal?

Medo do vazio...

Ou do que não é preenchido?


Mas olha, tal qual é...

Que pouco ou muito é dito...

Não sei se sei o que digo...

Tem hora que nem sei o que sinto...


O segredo da vida é a inquietação...

Ser isto ou aquilo ou então não ser...

Perguntas sem

resposta...

Onde em cada instante...

Pensar é não compreender...


Sandro Paschoal Nogueira

sábado, 24 de fevereiro de 2024

Declive


 

No declive do tempo os anos correm...

Por mero acaso, sem saber porquê...


E antes que a bruma tire o brilho de nossos olhos...

Antes que gritemos e ninguém nos escute...

Antes que minha ausência se prenda a sua pele...

Permita-me fazer-te com o pouco que oferece-me mostrar-te o muito que posso dar-te...


Não me deixe fugir com o vento...

Ou perder-me de ti em lamentos...

Quanto mais sabemos...

Parece que mais erramos...


Ninguém já soube o que é o amor...

Se o amor é aquilo que ninguém viu...


Se devagar se vai ao longe...

Devagar te quero perto...

Se pouco me dás...

Muito te ofereço...


Tenho visto muitas coisas...

Algumas bem estranhas...


Da vida pouco entendido ...

Mas és para meus sonhos...

Todos os encantos requeridos...


Selecionei para ti essa manhã...

Para dizer-te isto...


Não tenho como voar...

De asas feridas...


Dentro de mim se acanham as certezas...


Por onde vai a vida?

Sem ti...

Será tão mal gasta...

Peito aberto em mil feridas...


Que este amor não me cegue...

Sei que nada me é pertencente...


Mas a magia evoco...


Entre seus abraços...

Abandono o peso do caminho...

E em ti me aporto...

O que estava perdido...

Por fim encontro...


Sandro Paschoal Nogueira

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Um sonho


Talvez sonhasse...

Com um mundo mais culto ...

Porém menos chato...

Com pessoas que exercitassem o cérebro...

Com o mesmo afinco que fazem com seus músculos...

Diante os espelhos...

Entre as latrinas...

Nós diversos banheiros...


Ranger de nevoeiro...

Terra de escravos...

Roupas justas...

Espíritos vazios...

Para que prego?

Para quem falo?


No fundo da virtude...

A terra é triste...

Olhos opacos...

Sorrisos sem graça...

Mãos que gesticulam...

Sem nenhuma dádiva...


Tempos estranhos...

Tempos esquisitos...

E eu que a tudo observo e sinto...

Fico perdido...

Não me acho...


Eu cavo na vida a semente da libertação...

Esquivo- me de falsos abraços...

De nojentos apertos de mãos...


Partes perdidas de um só...

Que a razão despedaçou...

As aparências tornaram-se mais importantes...

Todos querem respeito...

Anseiam ao amor...

Mas estão todos perdidos...

Caminhando em direção ao abismo...

Cada um por si...

E  tão só...


Deixo no ar...

Atrás de mim tão distante...

Os desejos de uma vida mais simples...


Plantar...

Cultivar e colher...

A verdade...

A sinceridade...

O amor tão escasso...

Hoje fadado ao fracasso...


Não há como encher a taça...

Tudo perdendo a graça...


A inocência é corrompida...

A dúvida disfarçada e mais sentida...

O purgatório decorado...

O túmulo é bem caiado...

Mas por dentro...

O mais fétido excremento...


Envelhecer é triste...

Não há novidade...

Tudo é tão repetido...

Até os sentimentos...

Nada se encontra...

Tudo é outrora...

Tudo já é perdido...


Há uma vaga brisa...

Soprada pela esperança de anos vividos...

Doçura dolorosa...

Independência da alma...

O mistério alegre e triste de quem chega e de quem parte...

De que sorri...

Enquanto a alma chora...


Sandro Paschoal Nogueira

 

sábado, 17 de fevereiro de 2024

Cansaço

 



Em todos os bares um bordel...

Vadias sem preço...

Segurando paredes pomposos bêbados...


Cães esfomeados...

Magros, cansados...

O pus escorre das portas às valetas...

Jovens fúteis...

Por favores fáceis e drogas...

Tornan-se proxenetas...


Gente de bem a vagabundear com a barba crescida...

Alguns desalinhados e fetidos...

Em todos os locais de turismo da cidade...

A disfarçar o pedacinho do céu perdido...


A falência da vida que vendiam...

Escondendo dores...

Decepções...

Vazios...

Atrás de falsos valores...

Disfarçados sorrisos...


É preciso suportar...

Fingir que nada faz sentido...

Não esmiuçar as parcas moedas...

Talvez estar também sempre bêbado...

Para esconder seu segredo...


É preciso viver entre os homens...

Disfarçar a hipocrisia...

Aspirar ao amor...

Para sufocar a dor...

Do grito vazio...

Da rotina maldita...

Do cansaço de tudo...

Do cansaço de todos...

Do cansaço da vida...


Sandro Paschoal Nogueira

Acaso


 


Um vento que soprava...

Testemunha de segredos da madrugada...

Promessas desconexas surradas...

Sob a calma das estrelas...

Entre as sombras de uma rua mal iluminada...


Um copo de bebida esquecido...

Enquanto o cigarro fumegava...

As horas loucas se perderam...

No ar onde a respiração doce arfava...


Óh...

A carícia da terra...

A juventude suspensa...

As coisas mais simples...

Sei que há diferenças...

Mas tudo se esquece...

Quando a gente se ama...


E já nada mais me doer...

Melhor até se o acaso...

Fizerem-me nessa rua deserta...

Encontrar você...


Sandro Paschoal Nogueira

terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Diabo


 

Se em nossas lutas não batermos de frente com o diabo, é por que devemos estar caminhando ao lado dele...

Cuidado...

domingo, 28 de janeiro de 2024

Original

 



Original é quem se origina de si mesmo...

Que encara o abismo que o chama...

Que sendo de toda a parte

não é de lugar algum...


Que planta e colhe a própria sorte...

Que faz do choro o riso...

Que amplia seus horizontes...

Tendo o céu como limite...

Não se cansa...

E se cansa...

Segura o peso e segue adiante...


Original é quem enche os copos...

Sem perder o juízo...

Que tal como um gato possui sete vidas...

Não desprezando nenhuma em qualquer esquina...


Original é aquele...

Que foi expulso do paraíso...

Que lavra o coração...

Fortalece os sentidos...

Que acima de tudo não esquece...

Mas se compraz no perdão...


Original é aquele...

Que desce às ruas...

Como se fizesse amor...

Que em madrugadas solitárias e frias...

Encontra em si mesmo o próprio calor...


Original é aquele...

Que percebe as mentiras...

Mas que com elas não se deita...

Que enfrenta os medos e as dores...

Que não perde as rédeas da vida...

Que mesmo sendo sofrida...

Cultiva o amor...


Sandro Paschoal Nogueira

Maldito

 



Maldito é o homem que confia no homem...

Que aguarda uma palavra de consolo...

Que coloca em mãos alheias seus sonhos...


Maldito é o homem que tem esperança no bem inesperado...

Que descuida-se nos próprios cuidados...

Que vai dormir tranquilo aguardando que o seu vizinho o tenha em boa estima...


Maldito é o homem que acredita que para ser feliz...

Tem que chamar a atenção...

Que coloca como opção...

Entregar seu coração...

Aos falsos amigos...

Aos lobos famintos...

Às ocasiões sem sentidos...

Ao futuro que se avizinha...

Sem estar prevenido...


Maldito é o homem...

Cuja alma inocente...

Sofre constantemente...

Pela língua maldosa...

Das pessoas hipócritas...

Das pessoas vazias...

Que enchem os seus copos...

Que arrotam o que pensam...

Sem respeito alheio...

Que o olham de lado...

De modos esguivos...


Maldito é esse homem...

Que aguarda sob o tempo...


Mas que esse homem seja bendito quando se afastar dos aflitos...

Quando se afastar das  gargalhadas altas e ruidosas...

E compreender que sendo comedido...

Confiando em seus sonhos...

Aprenderá que assim trançando seu destino...

Comprazendo em própria companhia...

Nunca estará sozinho...


Sandro Paschoal Nogueira

Sono interrompido

 



Existem saudades e fotografias...

E palavras que eu amaria ter-te dito...

Existe o sono interrompido...

E a agonia entre lençóis revolvidos...


Ainda terei o alento diante o pranto derramado?

Diante as horas que não passam...

Diante o tamanho vácuo?


A lucidez de não chegar o tempo...

As horas pesando diante tamanho sofrimento...

Os dias que passam lentos...

As madrugadas tão silenciosas...

As horas que jazem mortas...


Estátua a moldar o vento...

Flor morrendo entre o lodo...

Deitando a sorte em agonia...

Diante os dias a grosseiro modo...


Estando agora mudo, surdo e cego...

O abismo clama minha alma...

Ah sem ti como é penoso viver...

Sem estar junto a ti agora...


Hoje não sou eu nunca por inteiro...

A vida perdeu a cor...

A alegria alheia me aborrece...

Nada mais sei o que fazer...


Vem...

Volta para mim e me ame...

Não me deixe assim tão opaco...

Preencha meu coração...

Que sem ti vive assim...

Tão fraco...


Sandro Paschoal Nogueira

Dose de rum...


 


Eu quero ver você numa piscina de óleo fervendo...

E eu aqui te oferecendo uma dose de rum pra você se esquentar...






I Wil surviver


 Eu vou sobreviver...




Doida desalmada


 

Doida, desalmada e atrevida...




Foram me chamar...

 


Foram me chamar...

Eu estou aqui o que que há?




Você me ama?


 



Não mais...








 

Nada fica

 





Mas tudo passa...

Tudo passará...

E nada fica...

Nada ficará...

Cinderela









 Venha de onde vier...

Chegue de onde chegar...

Ainda bem...








 Ainda bem...

Que agora encontrei você...

Puta rica

Puta rica






 A puta pobre é despeitada com  puta rica...


Luxúria


 


Meia noite chega...

Querem acabar comigo...

Imprensarem -me em algum lugar escuro...

Longe das vistas...

Cheios de perigo...


A bebida entorpeceu minha mente...

Entrego-me aos sentidos facilmente...

Arrastando-me com ar de murta...

Somente testemunham as pedras na rua...


A luxúria me chama intensa...

Até quase esmagar o coração...

Carne branca e palmitante...

Sob muitas mãos...


Músculos hérculos da serpente...

Fazem-me revirar os olhos...

Tampam-me os meus gritos...

Ferozes algozes...


Quisera eu exausto quando...

No delírio da gula encontrasse-me absorto...

Pudesse ao delírio recomeçar...

Entre os abraços a me domar...


Pedras silentes...

Continuem assim...

A aurora se avisinha...

Amanhã outro dia...


Só terei lembranças bem sentidas...

Da noite por mim ...

Tão bem vivida...


Sandro Paschoal Nogueira

Vadia


 

Vadia...

Permissiva...

Seu outro lado da alma vazia...

Estando torpe...

A qualquer um se entrega...

Arrepende -se?

Nunca...

Amanhã...

Outra madrugada...

Outro dia...


Profana...

De estirpe deitando-se na lama...

Sua desculpa...

A bebida...

Disfarçando a alma fria...


Até sobre um formigueiro se deita...

Não sente as picadas...

Mas contorce-se sob as mordidas...


É tão rasa...

E tão funda...

Promíscua...

Feliz em ser confundida com uma puta...

Vagabunda...


De classe relevante...

A qualquer pertence em poucos instantes...

Na madrugada não tem casa...

Não sonha...

Não cria asas...


Um dia quem sabe se aborreça...

De ser uma meretriz das sarjetas...

Mas enquanto esse dia não chega...

Com vagabundos se deleita...


E é feliz desse jeito...

Não conhece outra forma de ser...

Apenas a conhece a lua...

E as pedras frias da rua...

Quisera apenas um desejo ter...

Ser pura...

Para toda noite se perder...


Sandro Paschoal Nogueira

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Sujos


 


Antes certo que não se quisera passo, mas o silêncio...

Gente suja...

De pés feios...

Falando alto...


Embriagados com putas velhas...

Roupas surradas...

Cheirando a fumaça...


A noite decreta o cancro...

Qualquer música degredada em pranto...

Gargalhadas torpes...

Viciados da rotina...

Quem diria...


Um pensamento que não se esconde...

Nem mesmo disfarçados pelas bebidas pagas...

Das pedras que colho...

Só gente cambaleando...

Sujos...

Feios...

Excrementos de seres humanos...


Um só destroço...

Corpos fedidos e suados...

Rugas fundas...

Dentes tortos e amarelados...


Esquecendo para sempre as loucuras do vinho atrevido...

Falam cuspindo...

No Português errado...


Buscando distração...

Quem sou eu de fato...

Entre os porcos...

Um diamante jogado...


Meu Deus...

Meu Deus...

Tratar a todos com respeito...

No túmulo não há diferença...

Mas será que de fato..

O céu pertença a essa gente tal como rato?


Recolho-me em sonho e mágoa...

Óh tristeza descendo em meu olhar...

Sonho moribundo...

Gente feia...

Não há como se misturar...


Diz-se que a solidão torna a vida um deserto...

Mas antes só que mal acompanhado...

Posso ter respeito...

Mas amor é negado...


Sei que embora essa luz nem para todos tenha o mesmo brilho...

Tudo o que existe em nós de grande e puro...

Nem sempre esconde o lamento...

Dobrada é minha ventura...

Em poder escolher com quem convivo e me deito...


Sandro Paschoal Nogueira

terça-feira, 16 de janeiro de 2024

visita


 


Misteriosa visita a quem aguardo...

Tua vontade que me bate...

Enrendando meus cuidados...


Um culto por mim cultivado...

Tão pouco de mim julgo que o mereça...

Antes que a noite desapareça...

Fazendo-me atrevido...


Fremente volúpia pecadora...

De lábios macios e tentadores...

Onde o amor repousa lascivo...

Onde conheço mil sabores...


Os rumores do mundo são esquecidos...

Quando em seus braços me perco e me acho...

Seus sussurros alongam meus ouvidos...

Que representam em terra meu paraíso...


Despojo-me dos pudores e me dispo...

O toque torna-se mais aflito...

Faço de minha alma uma lâmpada de cego...

E dou-me por rendido...


Assim a natureza fala...

As portas de ouro vão se abrindo...

Florida canção que nos deleita são os nossos gemidos...

E por fim...

Transfigurados de emoções...

Adormecemos sorrindo…


Sandro Paschoal Nogueira

sábado, 13 de janeiro de 2024

Veneno


 

O veneno das minhas ironias...

Hás-de beber entre suas lágrimas vazias...

E hás-de encontrar-me em teu surpreso olhar...

A minha face fria...


O meu prazer de outrora...

Emigrou...

Partiu...

Não mais está com você...


Podes te dar por pago...

Que este é o preço da vida e todo o seu valor...

Amei-te em dolorosos delírios...

Mas já nada sinto...

Nada restou...


Que seja sonho apenas a esperança...

Agora eu bebo a vida a longos tragos...

Sigo meu feliz caminho...

Deixo-te como sempre quis...

Sozinho...


Sandro Paschoal Nogueira

sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

Ilusão morta

 



Grande ilusão morta no espaço tempo...

Do fundo do copo...

Disfarçando a espera de um qualquer sofrimento...


Pelas saudades que lhe aterram...

Procurando no amor a felicidade...

Entre conversas vãs...

Entre os descasos sem cuidados...

Pertencer a quem souber...

Apreciar os trejeitos...


No íntimo mais profundo...

Ignora o silêncio e o eco...

O que o coração murmura, a voz não diz...

Entorpecido sente-se feliz...


E vão-se em mar a fora...

Os sentidos embriagados e mal sentidos...

Que tudo é ilusão que esta alma sente...

Se nada há de novo e tudo o que há...

Sentir prazer em deitar-se com o perigo...


Que alguém lhe mostre a tua imagem, como tantos, sem sentido...

Sem expor à vergonha...

Sem alardear seus gemidos...


Pobre esperançado...

Que anda crê na ilusão…

Do amor…

Da fantasia...

Que nas portas dos bares aguarda...

Alguém a lhe acompanhar pelas ruas...


Tudo posso esquecer em minha vida...

As visões em minhas estradas percorridas...

Só não consigo me esquecer no entanto...

Dessa figura de alma nua...


Sandro Paschoal Nogueira

domingo, 7 de janeiro de 2024

Rumor


 


Do rumor do mundo...

Meus pés vão fugindo...

Desfolham-se ilusões e vão-se sem apegos…

Quero mais óh Senhor...

Um sonho, paz e sossego...


Que sigam em mares amargos...

Ironias, falsos júbilos e descontentamentos...

Que singrem os tolos desejos...

E soprem novas esperanças...

Em meu coração tão ressentido...


Os meus vinhos por mim bebidos...

Em cálices aos céus apresentados...

Nas mesas de meus inimigos...

Tenham-me servido...

Para manter-me o coração alforriado...

E o espírito mais leve fazendo-me da ingratidão ter-me esquecido...


Que rolem e que finjam os mascarados...

Os incansáveis trabalhos não concluídos...

Os desejos gastos e os amores perdidos...


Os mistérios contra mim conspirados...

Não frutifiquem suas sementes...

E que em meus caminhos...

O amor seja sempre doce e clemente...


Se queres saber sua grandeza...

Saibas que nem tudo é perfeito...

Mas que nunca deves perder a pureza...

E que sonhar seja preciso...


Muitas vezes ansioso espreito sigo...

Por caminhos não percorridos...

Atento ao vento e ao seu conselho amigo...

Somos apenas nós...

Que traçamos nosso destino...


Mil vezes abro a boca…

E nada digo...

Outras tantas falo sem pensar...

Podes ser igual a todo o mundo...

Ou diferente como convier...

Só não podes nunca...

Perder a vontade de amar e viver...


Sandro Nogueira

Nudez


 

Má fada me encantou e aqui estou...

Imortal serenidade repleta de  desejos e saudades...

Entrada livre para o desconhecido…

Meu Deus Tu não mudas o programa...

E a vida rápida escoa...

Tal qual apaga-se uma chama...


Voz com que te chamo...

Desencanto...


Meus olhos não Te vêem...

Solidão que de Ti espero...

Gemo e canto...

Como qualquer ninguém...


Teu grande amor que é Teu maior segredo...

Basta-me de enganos... Mostra-me sem medo...


Não posso mais...


Ando tão cheio de vazio...

Ouço meu coração ardente e solitário...

E não vejo em meus pares algum compromisso...


Estou no ventre da noite...

E tal como Lázaro caminho sem destino...

Uma nudez de abandono...

No fervor da espera...

De que tudo não seja só um mau sonho...


Sandro Paschoal Nogueira

sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

Quisera


 

Ah quisera eu que as pedras não fossem mudas...

Que no fundo dos copos encontrasse as verdades...

Que as palavras fossem de fácil entendimento...

E que os amores não fossem desfeitos...


Quisera eu que meus pés descalços não fugissem...

Do tempo que a tudo destrói e forma fuligens...


Que as ilusões não se desfolhassem...

Que os sonhos não perdessem as virtudes...

E que amando só conhecessemos  as verdades...


Às vezes uma dor nos desespera...

E a verdade nos engana...

Então o desalento clama...

E a vida queremos que encerre...


Então para que nunca nada se perca...

O desejo cultivamos mesmo amargo e rude...


E diante das auroras que se avizinham...

Para que o sonho viva de certezas...

Para que o tempo da paixão não mude...

Por bem vos quero...

E morro despedido...

Na esperança de um vão contentamento...

Em saber que nem tudo está perdido...


Sandro Paschoal Nogueira

Papéis


 

Não há papel que conte a minha vida...

Eu caminho por eles...

Eu sei que há diferenças

E ainda bem que as há...


O meu desejo canta...

Onde estás?


O vento levará os meus sonhos?

A noite cai de bruços...

Como existir esquecimento ?

Mas o que vejo?

A luz escurecer...

A amargura de olhar e não ver...

O ter e o perder...


Vago dia após dia...

Estranha quimera...

Estranhas fantasias?

Quais ruas escutam meus passos?

Quais estradas colhem meu olhar?


Aos solavancos do destino...

Onde estarão aqueles que me embriagam de calafrios?


Os ventos recolheram...

E diante de mim...

Até as estrelas emudeceram...


Em mim a vida força sua invasão...

De onde vem a voz que me rasga por dentro?

Sem luz nem eco...

De onde vem esse aperto no peito?


Entro abandonado...

Nesses muitos corações que encontro desavisados...

Mortos aos caminhos...

Por onde insisto e também sigo...


Não quero ser quem sou...


Sandro Paschoal Nogueira

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Pecado


 


Percebo afinal meu pecado...

Em silêncio mais profundo...


Faria piedade a toda a gente...

Esta pena, esta dor...

Este é o preço da vida e todo o seu valor...


Horas que perdemos...

Vão pelo espaço acompanhando os astros...


E todo este feitiço e este enredo...

Na luta dos impossíveis...

Tão profundo meu segredo...


Das profundas paixões...

Dor infinita...

De guerra e amor e ocasos de saudade…

Da alma o profundo e soluçado grito...

De que fui para ti só mais um neste vasto mundo...


Hoje triste ouço a solidão...

Da luz que não chegou a ser lampejo...

Da natureza que parou chorando...

Diante meu descontamento...


A vida é assim, uma ânsia…


Fazes o bem...

Que terás o mal por paga...


E o sonho melhor bem pouco dura...


Por tanto querer-te...

Recebi amarguras...


Pouco antes...

Nada agora...


E a princípio não percebi...


Como chegastes...

Partiste...

Mas levastes um pouco de mim...


Na profundidade dum desencanto...

Fiz-te doçura do meu coração...

Não compreendestes...


Mudarás, todos mudam...


Mais tarde em tua vida, um dia, hás de tentar

revolver da memória este tempo de agora…


E sentindo então o vazio...

Lembrarás do deixado para trás...


Não se vive outra vez...

E o tempo a tudo vence...

Fostes embora...

Mas fiquei em paz...


Sandro Paschoal Nogueira

Sede


 

Assim se desenterra toda a sede...

Todo o amor...

Todas as noites...

Uma a uma...

Toda a luz de cada dia...

E o meu coração que a ti espera...

Se alegra enquanto definha...


Vejo coisas que nunca antes tinha visto...

Coisas que sempre soube mas que nunca quis olhar...


Tão certo que me aperto...

Que meu mal tanto me dura...

Vou mais fora de caminho...

Sem ti vou tão deserto...


Recantos escuros, em segredo...

Atrás das sombras que me procuram...

Desiludido ainda me iludo...

No que meus olhos mais indagam...


Pelas palavras que nunca disse...

Pelos gestos que me pediste...

E com este cuidado todo...

Perco de vista o meu ser verdadeiro...


E bem sabes...

Que até me ignorando...

Sou teu...

Por inteiro...


Sandro Paschoal Nogueira

Procura

 



Sombra que segue os desejos...

Alma que tanto procura...

Sem encontrar... 

Em ruas, conversas vazias...

Fundo de copos se aventura...


Doidos passos incontidos...

Império dos sentidos...

Enfim o copo vazio...

- "Enche outra vez vizinho"...


Vinhas de vinhos de oiro não bebidos…

Ócios e sossegos…

Desejados e outros sentidos...


Noite sucedendo noite...

Vertigem em qualquer leito...

Tanto faz...

Tudo tem jeito...


Amores, esperanças e desejos...

Quase os mal diz...

Eis que entrega seu coração...

De nada serve e vale...

Tudo é ilusão...


Dias mal gastados...

Noites mal dormidas...

Desejos de coisas esquecidas...

Lembranças de velhas feridas...


Incansável a tudo retorna...

Rotina a que se entrega...

Fraqueza que vira resistência...

Quando qualquer hora e hora...


Mas pois por vosso mal seus males vistos...

E todos os dias finjes te-los esquecidos...


Já nem vives...

Nunca aprendeste...

Vem de sua saudade, o que presume...

A ânsia de realmente viver...


Dizes que ficas tonto…

Hás de então ficar louco...

Tonto, o feio fica bonito...

O corpo só arde em desvario...


No entanto, o imaginário

desejo de alcançar...

Já nada mais importa...

Nem mesmo se terá outro amanhã...

Ou se terá...

No dia seguinte se arrependido...


Sandro Paschoal Nogueira

Grande ilusão


 

Noite calada, como num lamento...
Foi cena alegre...
Oh quão lembrado estou...

Grande...
Grande Ilusão...
Perdida nos abismos da memória...

Pelas saudades que me aterram...
Durmo...
E o que importa?
Já não vivo em mim...

Chora o vento…

Noites sem brilho...
Noites sem luar...
Dolorido canto deste penar...

Meu olhar se pousou e se perdeu...
Mas por certo, a fé ardente...
Não perdeu a sua viva claridade e persiste...
E na volúpia da dor que me transporta...
Ainda insiste...

Sinto-te longe...
Ó esperança quase  morta...

Entre esses vultos falantes porém mudos...
Sou eu mais do que eles...
Ou tenho igual fado?

Um soluço subindo a eternidade...
Coração...
Coração...
Nas veredas da vida a alma não cansa...

Alongo os vacilantes passos...
Sob o julgo do tempo...
Ergo o cálice e blindo...
Sorvendo sublime veneno...

Sangue...
Luar...
Distantes saudades...

Sandro Paschoal Nogueira

terça-feira, 3 de outubro de 2023

Anunciação


 

Anuncia-se esperança noutro dia...


Um dia que me viste...

Se é que me viste...

Tirando da alma os bocados de tudo o que sinto...


Teia de um tempo...

Que o nada representou...

E que acabou...


Acumularam-se os invernos...

Diante eternos segredos...


Estava tudo pronto para receber a felicidade...

Esperei-te...

E não viestes...


Agora é em mim que procuro...

O que em ti não encontrei...

Sem amores...

Nem ódios...

Nem paixões...


Assim a minha vida se desprendeu...

Do muito que sonhei...

Em ser apenas teu...


Tudo é pó...

Mas nem tudo foi em vão…


Mesmo que o que arda e que nunca cure...

Quiçá em uma curva...

Eis-me diante de meu coração...


Sandro Paschoal Nogueira


Profundezas


 

Profundo deve ser meu futuro...

Em desejo e em procuras...

Enquanto o mundo vai de mim fugindo...


Passa o tempo...

Estremeçam as estrelas...

Desfaçam-se os mitos...

Assim segue o destino...

Enquanto caminho...


O que está ou não escrito...

A sorte e seu revés...

A dor...

Um lamento...

Novos amores...

O milagre de cada dia...

O sorriso de um momento...

Escolho meus caminhos...


Encantarei a noite...

Darei vazão aos instintos...

Já não mais presos dentro do coração faminto...


Um céu e nada mais é o que temos...

Não te assusta o mistério?


Vem...

Caminhe comigo...

Escute o sopro das canções dos anjos...

Ao pé de nossos ouvidos...


No entra e sai de um minuto...

Deste rapto do tempo foge um grito...

Da cegueira das paixões...

Logo após o delírio...


Bemdita e efêmera passagem...

Vem...

Caminhar comigo...


Sandro Paschoal Nogueira

Tempo


 


Podes, ó tempo, entrar...

Eu te convido...

Não o temo...

Não sinto perigo...


Alma incerta...

Não se distrai de ti...

Bem feliz eu sou...

Bem sei assim...


Não seja só delírios e desejos...

Mas amor que vive e brilha...

Que penetre o meu ser...

Sim, vivo e quente como a luz do dia...


As saudades que deixaste...

Crepúsculos de outrora...

Foram boas e bem lembradas...

Até mesmo nas horas mortas...


Mas tu foges de mim...

Foges a cada instante...

Por mais que eu corra...

Nunca está a meu alcance...


Então guardo os meu sonhos mais lindos e mais queridos...

Mantenho a luz da esperança, sempre acesa…

Por mais que eu em alguns instantes desfaleça...


No imaginário desejo de alcançar-te ergue-se o meu desalento…

Afinal para onde me guias?


Sandro Paschoal Nogueira

Vácuo morto


 


Não sei por onde ando e para onde vou...

O que tinha de ser já foi...

Da vida que foi e hoje não é...

Já não importa o que vier...


Olhai o meu coração que entre gemidos soluça...

Cidade morta...

Campo santo...

Que já não sabe o que faz...


Mas o que há de novo?

Nem imprevistos...

Uma vida sempre igual...

Oscilando entre o bem e o que há de mal...


O tempo se alonga e também para todos os dias...

Estranha situação...

Sem explicação...


Tédio extremo da desgraça...

Aguardando os fins de semana...

Para saber se algo muda...

Porém continua a sanha...


Vácuo noturno...

Fantasmas desfilando em espectros sudários...

Seguem pelas ruas cantando...

As horas mortas das fantasias perdidas...


Na floresta dos sonhos...

Atravesso no escuro...

Mundo estranho...


Alma que de aspirar em vão delira...

Onde está a lua?

Ilusão pura...

Cadê as estrelas?

Sumiram...


A minha eterna angústia de revolta...

Cabelos brancos dai-me, enfim, a calma...

De morar em uma cidade morta...

Que segue cantando pela rua...

As saudades mortas...


Cobra comendo cobra...

Irmão corrompendo irmão...

Nas cordas de um violão...

A vaidade se enrosca...


A meia noite a vida encerra...

Nem rosto atrás das vidraças...

Na manhã seguinte o féretro anuncia...

Semana que vem tem festa...


E a juventude passa...

Enquanto juntam as moedas...

Arrotando suas grandezas...

Enquanto à mesa...


Perdoai meu Deus...

A minha triste esperança...

Transformai meu coração seco...

No coração de uma criança...


Ah que saudade...

Da inocência perdida...

Hoje apenas sobrevivo...

Escondendo minhas feridas...


Ah lugar que nasci...

Lugar que me criei...

Acordai antes que o tempo tudo consuma...

Da vida que foi e hoje não é...


Sandro Paschoal Nogueira

Círculos


 

Círculo dantesco da loucura...

Viver, vibrar no brilho da lua...


Por entre as almas nuas...

Ser doido, alegre em maior ventura...


Encarando...

Rindo...

A vida que me tortura...


Sem ver a falsa bondade...

Das línguas nervosas...

E as pompas de serem quem não são...


As ilusões que a desventura transforma em pó e cinzas...

Dos ermos que bem conheço onde o vento passa e ri...


Não reparaste nunca?

Das almas que tanto anseiam e jogam suas cartadas...


Dos males feitos sem querer...

Amores mortos sem terem nascidos...

Nas madrugadas cinzentas e frias...

Em ruas tristes e vazias...


E no esplendor que perde e nem chegou a ser...

Bem triste a pantomima. . .

Onde no silêncio esquecido...

Muitos escondem a própria dor...


Sandro Paschoal Nogueira

Túmulos caiados


 

Decerto que já falei...

Bem sabes o que penso...


As misteriosas palavras dos véus de minha alma…

Não morrerão sem perdão...


Porque vejo muitos que se mascaram...

E isso assusta-me o coração...


Túmulos caiados onde germina a podridão...

Onde se compram e se vendem...

Sem nenhuma hesitação...


Usam a virtude...

Arrastando a inocência e a simplicidade...

Como convém...

Para a mesma escuridão...


Falam-nos do amor...

Não o sentem...


De maneira tão triste e louca...

Que não percebem...


Para fingirem suas lágrimas...

Não pedem permissão...


E se tu nada deres...

Irás para o ostracismo...

Daqueles que não tem condições de nada em ti julgar...


Quem nunca amou...

Não merece ser amado...

Tristes histórias...

Tristes fados...


Serei sempre provinciano...

Seja como Deus quiser...

Cego ao mal que me trouxer...


Sandro Paschoal Nogueira

quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Bruxo velho


 

Cavo,

Lavo,

Peneiro,

Nenhum erro cometi...


Corre o mundo em degredo...

Abrem-se as portas das prisões...

Bruxo velho tem segredos...

Sonhos e visões...


Teimoso aventureiro da ilusão...

Criatura do Criador...

Sem achar o que procura...

Encontra até o que não procurou...


Mundo torpe...

Em transição...

Um cego amor encontrou...


A pé andou...

O que construiu...

Foi o que plantou...


Toda gente sabe disso...

E falam o que não sabem...

De onde vem...

Para onde irá...

Ninguém nunca pensou no que há para além...

Para onde vai...

Ou o que fará...


Julgado em pouco preço...

Onde não há o entendimento...

Corrilho de megeras...

Turba insincera...

Visto que tudo passa...

Não ergais alto a taça...


Tempo passa...

Sempre passará...


Toda a gloria é pó...

Toda a fortuna é vã...

O que é hoje...

É de hoje...

Já não será de amanhã...


Quando a fortuna...

De inconstante aviso vai embora...

Vem assentar morada...

Desventura sorte...


Seja no claro céu ou turvo inferno...

Os desiludidos seguem iludidos...

Por esse mundão de Deus a fora...


Este mal que não tem cura...

Este bem que me arrebata...

Da fortuna aos favores...

Tenho amor, sem ter amores...


Enche-me os olhos d’água...

E nela lavo minha alma..

Sempre adiante...

Em mais alta busca...

Pela minha estrada...

Por este mundão de Deus afora...


Sandro Paschoal Nogueira

segunda-feira, 28 de agosto de 2023

Noite fria e chuvosa


 

Escondendo a lua...

Assim se movem as nuvens nesse anoitecer...


Como se o frio fosse o maior aconchego...

As árvores tornam-se  luminosas...


A chuva se derramando por praças, vielas e ruas...

E as almas mais calorosas...


Ouvindo com encanto alguém que não conheço...

Mas a mim, hoje, a mim...

Ignoro o tempo...


A felicidade jorra do meu grito...

Não há sossego de pensar nos destinos que não desvendo...


A meia-noite com vagar soa...

Sob os vaivéns da sorte...

Vozes...

Gemidos...

Também ouço lamentos...


O vento geme...

O mocho pia...

A noite...

Ah essa noite...

Tão fria...


As horas vão escorrendo lentas...

Cada coisa a seu tempo tem seu tempo...

E as histórias contadas no passado...

Retornam...


Não é serenidade o que se bebe pelas ruas...

Em cada rosto, em cada olhar,

um não-sei-quê...

Representando alegrias...


Máscaras...

Alegorias...

Sob o frio incenssante...

Enquanto o mocho pia...


Sandro Paschoal Nogueira

Abismo


 

Deus quer...

O  homem sonha...

A vida imita a Arte...

E a obra nasce...


As tormentas passam...

O mistério se cria...

Finda a noite...

Aurora se anuncia...


O homem é pequeno...

Sua alma divina...

Os sonhos alguns haverão de ter...

Enquanto outros põe tudo a perder...


Da sorte incerta...

Manda a vontade...

Do destino que é dado...

Tudo vale a pena...

Se a alma não é pequena...


Quanto mais o tempo passa...

Mais me afasto da razão...

O amor é um feitiço...

Mostrando-nos coisas tão belas...

Até que se conheça a traição...


Não tente apagar toda a dor do mundo...


Outros haverão de ter...

O que houvermos de perder...

Porque nisso está a verdade...

Até para quem não quer ver...


Nós podemos viver alegremente...

Não sei que abismo temo...

Mas sei que não podemos perder a nossa fé no Supremo...

Frio


 


No tempo dos segredos...

Todas as coisas eram possíveis...

Era no tempo em que os meus olhos...

Não tinham visto tantas coisas frias...


Antes das palavras gastas...

Antes de não termos já nada para dar...

O que chega, não fica...

Nem mesmo abre em nosso peito feridas...

Já não se passa absolutamente nada...


A rosa se descobriu a perder a cor...

Fechou os olhos e adormeceu...

E quando amanheceu veio o vento e a arrancou...


Ocultam-se as paixões...

Sob os véus da ilusão...

Tudo acaba como começa...

Sem guardar a lembrança de um amor...

Pobre e frio coração...


Ninguém te abriu...

Ninguém verteu lágrimas de puro afeto...

Ninguém lhe sorriu...

Refém das mágoas que a si mesmo causou...


As histórias são recontadas de tantas formas...

Tudo indefinido...

Destino...

Acaso...

Desejos...

Escolhas...

Talvez...


É bom às vezes sentir medo...

Raro ser compreendido...

À frente o desconhecido...

De tudo que se acreditou...

Onde o silêncio esconde pensamentos...

De tudo que já sonhou...


Sandro Paschoal Nogueira

quinta-feira, 24 de agosto de 2023

Sonhos


 

Trago dentro do meu coração...

Todos os lugares onde estive...

Todas as minhas escolhas...

Todos os amores que tive...


E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero...

Soa-me do fundo da alma...

Sonhos sinceros...


Cada homem, cada célula...

Tanta coisa...

Tanta gente...

No universo é verdade...

Nunca está só...


Por muito tempo achei que a ausência é falta...

De alegrias...


Em tempo de silêncio...

Tempo de nostalgia...

Intermináveis dias...


Ao longo das veredas...

Porque nisso está a verdade...

A vida em si...

É uma aprendizagem...


Voluntariamente abandonei...

O meu trono de sonhos e cansaços...

E aguardei com lágrimas no vento...

Mas sempre de peito aberto...


Não tenho pressa...

Pressa de quê?

Para quê?


Toco só onde toco...

Não em que desejo...

E assim sigo...

Sonhando...

Desejando...

Vivendo...


Sandro Paschoal Nogueira


domingo, 13 de agosto de 2023

Nada


 

Silêncio...

Hora morta...

Desfolhada...

Quando ouvi de seus lábios que eu não sou nada...


Hora inútil e sombria de abandono...

Um punhal em minhas costas...

A certeza cruel...

Do meu engano...


Sem rumo para os meus passos...

De que me serviram seus abraços?


Desiludido ainda me iludo...

Diante cruel mundo...

A quem devo dizer o contratempo...

Do solavanco desse destino...


Sandro Paschoal Nogueira