Total de visualizações de página

domingo, 23 de fevereiro de 2025

Estranhezas

 



Não há rumor na terra....

O silêncio se abriu...

As feras se aquietaram...

Em direção ao pó os corações jazem nas sombras...

De mãos em arcos os anjos oram...


Onde estão os inocentes?

Aqueles apontados por dedos tortuosos...

Cadê as flores que foram pisoteadas pelos hipócritas?

Onde estão as vozes que foram silenciadas pelas bocas amaldiçoadas?


Ao levantar do vento...

De ser todo só o meu exterior olho e choro...

Mesmo que eu ouça só esse estranho zumbido...

Vendo cair os pássaros...

Em meu coração emudecido grito...


Nas pessoas que passam na rua...

Com elas não me identifico...

E só lamento...

De ver o amor tornar-se perdido..


Cada um perdido no próprio sonho...

Até no sorriso que vem e que vai...

Todo mundo é convicto...

Dos próprios ais...


E eu, que não sou mais do que eles...

Volto a olhar para tudo...

Como antes do amanhecer...

E faço-me, assim crer...

Que bastaria apenas mostrar...

Minha alma num olhar...

Para tudo diferente acontecer...


E o mais estranho do que todas as estranhezas...

É que as cousas sejam realmente o que parecem ser...


Sandro Paschoal Nogueira

Buscas

 



A namorar as estrelas...

Traz luto nos seus vestidos...

Anda sempre a imaginar...

O que está sempre a sonhar...


Contente do instante...

Faz dos desejos um mirante...

No peito entrelaça...

A vontade de expandir suas asas...


Enche de força o coração...

Quando não lhe dão outra opção que um não...

Sussurra ao vento...

O que lhe diz o coração...


Sonda, fixo e absorto...

Desprezando  o seu tormento...

E interrogando o destino...

Busca seu momento...


Sabe que nada está além das cousas transitorias...

Das paixões e das formas ilusórias...

É a senha da sua vida...

No transcorrer das horas...


Foge e esconde...

E se tarda o encontro e não encontra...

Chora e ri da própria sorte...


Sozinho e acoplado a outros sozinhos...

Anda pelas ruas de espírito despido...

No gesto, no calar, no pensamento...

Finge estar desatento...


Uma presença...

Uma saudade...

Uma vontade...

E assim caminha...

Sonhando tocar as estrelas...

Desejando a eternidade...


Sandro Paschoal Nogueira

Aprendizado

 



Não falarei de minha poesia.

Não rimarei minha angústia...

Não direi que o mundo vai acabar...

Não direi da vida persistente que renasce...

De todos os truques...

De todas as formas de amar...


Sabes tu dizer que não?

Reprimir os maus, fazer aos bons justiça?

Sua ocupação dormir, comer, trepar...

Ignorância, desmazelo, incúria...

Hipocrisia que finges não ter...

A quem contigo não preocupas...

Mas que desejas agradar...


Todo esse tempo que lá vai...

Vejo passar a minha vida...

O que construí...

O que tenho...

O que senti...


Fecho as portas...

Fumo, e às vezes choro...

Tenho amigos que pensam confundir-me...

Outros tantos jurando me enganar...


A noite negra, irmã do desespero...

Faz-me apelos...

Adormecendo o pensamento...

Escondendo meu sonhar...


Importa amar, sem ver a quem?

Por mim, bem sei...

Que hei-de aceitar o que vier...

Embriagado os sentidos...

Não hei de recusar...


Tantos que vivem sobrevivendo...

E pergunto o sentido de tal sofrimento...

Nesta localidade da cidade…

Onde vejo tantos copos cheios...

Tantos jovens drogados...

Buscando algum sentido...

De crescer em alma e espírito...


Fujo da morte...

Embarcando à vida...

Enquanto me sussurra o vento:

-Tudo faz parte de seu espaço e tempo..

-Tudo é um aprendizado...

-Deleite-se nesse singular momento...


Noite perdida...

Quiçá o dia será encontrado...

E sigo minha estrada...

Enquanto medito sobre o dito...


Perante esta única realidade...

Perante meu abismo...

Cujos olhos me fitam...

Sufoco o angustiante grito...

Será somente isso?


Natureza diáfama...

De tantas almas...

De tantas histórias...

A eternidade seria assim?

Viver a cada uma...

Um constante experimentar sem fim?


Sandro Paschoal Nogueira

Obrigado


 

Muitas vezes te esperei...

Perdi a conta...

Nada me importava...

Mas tu enfim me importavas...

Bem mais do que as estranhas horas...


No meu mundo interior ...

Tivesse mais que perder...

Tanto pó acumulado...

Optei por fechar, do coração, a porta...

Deixaste meu espírito conturbado...


Em mim se despojou todas as jóias raras...

Nem ave canta...

Nem mais susurra o vento...

Erros e cuidados...

Perdidos momentos...


Quando quis me deu de graça...

Mas é caro o seu barato...

Depois que minha esperança morreu...

Me vi contra o tempo ingrato...


Ah como eu quis tanto amar...

Enquanto tu apenas brincar...


Deixaste perder o quanto tinha...

Tudo pus em suas mãos...

Fizeste de conta que não sabia...

E enquanto eu sofria...

Perguntava-me o que eu queria...


Do que dei da vida minha...

De ti ingratidão eu recebi...

Antes que nada me deste...

Só tua fútil e vazia companhia...


Tento reconstruir na minha imaginação...

A ilusão destes dias...


Cada um sabe que está sozinho...

Ah, perante esta única realidade...

Digo que muito aprendi contigo...

Diante do que agora sinto...


Obrigado...

Ensinaste-me a viver...

E agora o que tenho em meu olhar...

Tu nunca irá compreender...


Sandro Paschoal Nogueira

domingo, 16 de fevereiro de 2025

Estranheza

 



Não há rumor na terra....

O silêncio se abriu...

As feras se aquietaram...

Em direção ao pó os corações jazem nas sombras...

De mãos em arcos os anjos oram...


Onde estão os inocentes?

Aqueles apontados por dedos tortuosos...

Cadê as flores que foram pisoteadas pelos hipócritas?

Onde estão as vozes que foram silenciadas pelas bocas amaldiçoadas?


Ao levantar do vento...

De ser todo só o meu exterior olho e choro...

Mesmo que eu ouça só esse estranho zumbido...

Vendo cair os pássaros...

Em meu coração emudecido grito...


Nas pessoas que passam na rua...

Com elas não me identifico...

E só lamento...

De ver o amor tornar-se perdido..


Cada um perdido no próprio sonho...

Até no sorriso que vem e que vai...

Todo mundo é convicto...

Dos próprios ais...


E eu, que não sou mais do que eles...

Volto a olhar para tudo...

Como antes do amanhecer...

E faço-me, assim crer...

Que bastaria apenas mostrar...

Minha alma num olhar...

Para tudo diferente acontecer...


E o mais estranho do que todas as estranhezas...

É que as cousas sejam realmente o que parecem ser...


Sandro Paschoal Nogueira