Total de visualizações de página

6772

domingo, 23 de março de 2025

Inconstância


 

Deixados sobre a mesa...

Como os homens vivem...

Nem os deuses socorrem...

Os sonhos, as esperanças e ilusões...

Como um deserto imenso...

De conversas vãs...


Da enorme dor humana...

Que todos fingem não ter...

A essência de ser e parecer...

Conduz ao purgatório...

Sem ninguém perceber...


Vácuo imenso e fundo...

Eterna busca...

Inconstância do homem de ser...

Responde sorrindo à cruel realidade...

Enquanto perde-se no horizonte...

Acreditando crer...


A terra cumpre sua promessa...

De tornar a todos iguais...

O bom, o mal...

Quem riu, quem amou...

Que chorou os seus ais...


Nem este falso silêncio...

Sobre os ombros nus

e esmagados...

Nem o luar...

Pode esconder os pecados...


Raro e vazio dia.

Noite desamparada...

O momento é tão fulgaz e rápido...

Até para o mais amado...


Sandro Paschoal Nogueira

sábado, 15 de março de 2025

Perdido


 

Me fizeste sofrer e esperar...

Quando as emoções me afogavam...

A namorar as estrelas...

Pelas desertas ruas...


Quantas e quantas vezes...

Embriaguei-me te esperando...

E na surdina sem te encontrar...

E já descrente perdi-me com outros em qualquer outro lugar...


Cada um sabe o quanto que está sozinho...

E olha a tudo com olhos de sonho...

E aspira em silêncio os próprios ais...

Fazendo de conta ser tão feliz...

Enganando-se e querendo mais...


Oh dôce luz...

Oh lua que me contempla...

De engano em desengano...

Sou do que fui...

Um reflexo vago...


Confesso...

Entrego a ti meu abandono...

Em suas mãos me entrego...

Entrego a ti...

Porém, eu me dedico...

E prometo-me amar sem fim...


Mas não me faça...

A ti tanto esperar...

Já por destino derradeiro...

Podes perder-me...

E nunca mais me encontrar...


Sandro Paschoal Nogueira

Diabo loiro

 



Gemendo, a terra inteira...

Por onde o sonhador passa...

Fizeste-me mil maldades...

Com que a sua alma se alimenta...


Porque verdadeiramente sentir é tão complicado?

Como o mal feito está feito...

Agora a ti...

Verei como degradado...


Que somente a mim...

Andando...

Fingindo-me enganado...

Sobrevivi...

A tua falta de cuidados...


Amigos que pensam confundir-me

Eu tenho pena...

Que tentam destruir-me...

O mal por si, aviso, não se sustenta...


De haver falhado em  tudo...

Como tropeçar no capacho...

Que esconde as sujeiras do mundo...

Erro ao acaso...

Será o fado?


À imagem do meu próprio desejo...

Ser tolo é uma arte...

Abrigar fel no peito...

Até tanto que não sente...

Enquanto arde...


Pastoreando hei de viver...

E o diabo loiro, como me chamava...

Há de prevalecer...


Sou eu, eu mesmo...

De tudo qual resultei....

Fizeste por ti merecer...

Mudei...

Passei...

E sem ti descobri...

Que posso bem viver...


Sandro Paschoal Nogueira

quarta-feira, 12 de março de 2025

Preto e branco


 

Todo esse tempo que lá vai...

Vejo passar a minha vida...

Em preto e branco...

Em branco e preto...

Por alta noite...

Quando não ouço um pio...


Os meus amigos onde estão?

Que batam à porta...

Façam-se chegar...

Mas apenas espero você...

Por onde andarás?


Vem...

Destruir o silêncio...

Levantar os panos...

Limpar o espelho...

Que de tanto o fitar...

Preto no branco ...

Cinza está...


Deixada sobre a mesa...

Cheia de negra poeira...

A estrela por ti colhida...

Se empequena...


Tudo está lá fora...

E tanto aqui dentro quero...

Sentado...

Aqui espero...


E ponho-me a olhar suspirando...

Aguardando que se abra a porta...

E eu, que não sou mais do que isso...

É só isso o que me importa...


Tendo idéias e sentimentos por os ter...

Do que julgo que sou…

Do que anseio ser...

Sei que nada sou...

Quando estou longe de você...


Sandro Paschoal Nogueira

Por quê?

 



E vinha vindo a noite por entre os pinheiros...

E vinha a sonhar...

E perguntava-me ...

Por que te devo amar?


Porque há vida...

A doer com as mágoas...

A rolar as lágrimas...

Por que andas de repente...

Entre idas e voltas...


Dos que esperam a luz...

Em densas trevas...

No vácuo mudo...

De um desolado coração...

De quem não espera...

A sua compaixão...


Do esquecimento inviolável...

E olvida, como quem está já morto…

E, interrogando o destino...

Sente desconforto...


Verdade...

Qual delas?

Que estão além das cousas transitórias. ..

Correr do tempo onde o amor se perde...

Para onde vais...

Sem eu poder ficar?


Sandro Paschoal Nogueira