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domingo, 13 de agosto de 2023

Rotina


 


Entram noites...

Entram dias...

O pó e a rotina...

As coisas repetidas...


O café requentado...

O pão amassado...

O dia que começa...

O galo cacareja...


Varrer o quintal...

Tirar as folhas mortas...

A justiça no fio da espada...

Pátria mal-amada...

Com a corrupção amasiada...


Ah essas ruas...

De pedras mudas...

Cães velhos e doentes...

As mesmas pessoas...

Dia a pós dia...


Um desejo de não sei o quê...

Quando a lua toca-me o rosto...

Na noite escura e fria...


Lembrando de um dia ter sido amado...

Tão distante o passado...

Os amores foram poucos...

Morreram sem cuidados...


O tempo apagando...

A marca dos meus passos...

Os dias embraquecendo meus cabelos...

Agora já tão escassos...


Não passa o tempo da saudade...

Passa um nada meio acontecido...


Vivemos e morremos feridos de silêncio duro e violento...

Insistindo em dizer...

Que tudo é belo...


O ano passa, e breves são os anos...

Poucos a vida dura...

Dar sem ter...

E ter sem tirar...

Fazer por merecer já que a ruína compreende tudo...

E eu conheço bem pouco desse mundo...


Demoro demais...

Ao óbvio perceber...

Vês aqui alguma figura? Ninguém vê...


Minhas tardes envenenadas...

De um vazio por dentro...

Único a me encher o tédio...

O meu cão...

Abanando o rabo...


Construí um labirinto...

E nele me perdi...

E também nem sei...

Se dele quero sair...


Ontem eu era o mesmo...

Amanhã também serei...

Não mudo...

E nada mudarei...


Meto-me para dentro...

Fecho a janela...

Apago as luzes...

Ascendo uma vela...


Rezo pedindo uma graça...

Que amanhã seja melhor e diferente...

Mas se não for...

Saúde já me basta...


E sem pensar em mais nada...

Como e vou dormir...

Minha alma...

De tudo está cansada...


Entram noites...

Entram dias...

O pó e a rotina...

As coisas repetidas...


Sandro Paschoal Nogueira

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