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terça-feira, 18 de julho de 2023

Vais...


 


Tu que dormes à noite na calçada ao relento...

Sem abrigo...

Abraçado à solidão...

Recebendo carinhos do sofrimento...


Tu que estás em casa só...

Dos parentes e amigos esquecidos...

Que verte lágrimas quentes...

Beijadas pelo vento...


Tu que tens o coração...

Corroído pelo ciúmes...

Que resmunga por onde vais...

O látego dos seus queixumes...


Tu que debruçada nas janelas...

Vez ou outra por detrás das cortinas...

De olhar assustado...

Segurando a língua e as intrigas...


Tu que pelas manhãs e noites frias...

Vaga por bares e boemias...

Procurando preencher o vazio...

Daquilo que nem tem mais sentido...


Tu que cultivas a secura...

Sufocando a ternura...

Vês o tempo indo célere...

Dias e dias...

Luar após luar...


Tu que andas nas sombras...

E que a fome da alma conhece...

Que sofre e não esquece...

O mel de um dia, outrora...

Em  que foste feliz...

E sem saber como...

Deixou passar a ventura...

O fel tu agora prova...

Porque bem assim quis...


Estava tudo pronto para receber a felicidade,

e tu não fostes...

Sonhaste e não lutaste...

Os amantes foram e se deram...

A vida aconteceu...


Agora tu praquejas...

Blasfema aos céus por erros teus...


Percebes que sois finito?

Pobre espírito...

Desatas a chorar...

Range os dentes sufocando os gritos...


Há  mortos inda que vivos, vivem...

Me convenças de que ainda existes...

Não serei como tu...

Que da vida perdeste o encanto...

Que agora em lamentos...

Sofre pelos teus muitos enganos...


Caminho por onde vou querendo...

Já que nem os mortos como tu...

Apontam -me os dedos...


Sandro Paschoal Nogueira

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